Inteligência aumentada: IA permite ao médico ser mais humano
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Inteligência aumentada: IA permite ao médico ser mais humano

A experiência com soluções tecnológicas na área da saúde mostra que as máquinas potencializam a capacidade dos médicos e devolvem tempo de qualidade à prática clínica

Inovações tecnológicas têm transformado a vida de pacientes, a rotina de profissionais de saúde e a dinâmica dos hospitais. A medicina se torna cada vez mais precisa e ágil, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento das doenças. A experiência mostra que o processo de digitalização do setor e o uso de Inteligência Artificial (IA), que antes atraíam olhares de desconfiança, são consolidados como catalizadores da inteligência humana.

A partir da revolução industrial, as pessoas começaram a temer a perda de postos de trabalho para as máquinas. Contudo, pouco a pouco, essa tese foi sendo desmistificada. Hoje, o conceito da Sociedade 5.0, criado no Japão, reposiciona as tecnologias em benefício do ser humano, ou seja, somos o centro da inovação e da transformação tecnológica.

Considerando esse contexto, o uso de IA, aplicativos e softwares está cada vez mais presente na prática clínica. Entre diversos produtos e serviços disponíveis, há soluções para facilitar a análise de imagens, para agilizar resultados de exames e para compilar informações para um possível diagnóstico.

O gerente médico do Departamento de Imagem do Hospital Israelita Albert Einstein, Gilberto Szarf, conta que as primeiras inovações tecnológicas detectavam se um exame estava alterado ou normal e indicavam qual seria a alteração. Porém, a gama de soluções disponibilizadas com a popularização da IA cresceu nos últimos anos.

“Antes era assim: existe a alteração e eu vou qualificar essa alteração. Só que começamos a ver um aumento de soluções que ajudam em outras áreas, como a de acelerar a velocidade dos exames para ter resultados mais rápidos, melhorar fluxo de atendimento de pacientes de acordo com a gravidade do caso, melhorar a escala dos médicos equacionando a força de trabalho de acordo com a demanda”, explica.

A experiência mostra que essas novas tecnologias não estão ocupando o lugar do médico. O que se vê é o contrário: elas geram economia de tempo ao acelerar a análise de exames e de tarefas burocráticas para que haja maior disponibilidade para o fortalecimento da relação com os pacientes.

“Essa é uma nova forma de trabalhar que estamos aprendendo e incorporando. Seguramente, é algo que deve trazer um enorme auxílio. As ferramentas devem ter o poder para distribuir o nosso tempo para o que devemos, que é dar atenção ao paciente”, avalia.

Essa realidade está dentro do conceito de digital health, que é a convergência das revoluções digitais com a área da saúde. Trata-se da união de médicos e especialistas em dados para desenvolver soluções de saúde utilizando os benefícios proporcionados pela tecnologia, como deep learning, machine learning e inteligência artificial.

Gilberto Szarf acredita que essa será a tendência do mercado de saúde nos próximos anos. “Atividades periféricas passarão a ser desenvolvidas pela inteligência artificial”, conclui.

Digital health dispara na pandemia

As startups que atuam na área da saúde, chamadas healthtechs, registraram, só durante a pandemia de Covid-19, crescimento de 118%.

De acordo com dados do relatório “Distrito Healthtech Report 2020”, esse tipo de empreendimento teve um crescimento significativo nos últimos anos: houve um salto de 248 empresas no Brasil em 2018 para 542 em 2020; em 2021, já havia 747 healthtechs atuantes no país.

A maioria das startups oferece soluções relacionadas à gestão e prontuários eletrônicos (25%). Também se destacam nas áreas de acesso da informação (16%) e marketplace (12%).

A alta do setor não deve parar nos próximos anos. O tema é alvo do interesse de quem busca mais alternativas de crescimento e inovação.

O estudo “Digital Health and MedTech — New Signals for Transformation”, publicado pela Accenture e AdvaMed, divulgado no início de dezembro de 2022, mostra que o setor de tecnologia médica e saúde digital tem ocupado a pauta de executivos e gestores.

O estudo se baseou em uma pesquisa global realizada com mais de 150 executivos do setor e mostra uma mudança nos modelos tradicionais de cuidados com a saúde.  A conclusão é que um número crescente de líderes adota a saúde digital como parte essencial de sua abordagem a fim de melhorar os resultados dos pacientes.

Entre os entrevistados, 75% afirmaram que a expansão dos ambientes de atendimento mudará significativamente a estratégia de longo prazo e os modelos de negócios de suas empresas.

O relatório pontua que o desenvolvimento dos produtos, serviços, programas e provedores enfrenta o que chamou de “complexidade da implementação e a falta de parceiros e investidores”.

Dados da Rock Health mostram redução de investimentos em saúde digital no terceiro trimestre de 2022. O período foi o menor em termos de financiamento desde o quarto trimestre de 2019.

Apesar de ter havido redução do interesse dos investidores por startups, de maneira geral, ainda há espaço, por exemplo, para o financiamento de recursos imersivos e terapias digitais na área da saúde. Seria esta, então, uma “aposta segura” para 2023.

Considerando soluções por área terapêutica, a saúde mental liderou os investimentos até o terceiro trimestre de 2023,  mas doenças complexas, como o câncer, recebem mais atenção, com tendência de crescimento de investimentos na área.      

Soluções rápidas e seguras na palma da mão

A Eretz.bio, incubadora de startups do Einstein que tem como principal missão fomentar o ambiente de empreendedorismo e inovação em saúde no Brasil, apoia empresas que inovam no mercado de soluções tecnológicas para a saúde.

As startups incubadas com soluções de digital health já oferecem serviços para as áreas de oncologia, diagnóstico de imagem, anestesia, entre outros.

Uma das soluções de destaque é disponibilizada pela Anestech, criada em 2012.  A empresa trabalha com a chamada anestesiologia digital, que propicia cirurgias mais seguras a partir de uma gestão descomplicada dos dados anestesiológicos.

A healthtech idealizou o AxReg, plataforma AIMS (Anesthesia Information Management System). Na prática, o aplicativo une tecnologia, dados e uma base de conhecimento.

O CEO e fundador da Anestech, Diogenes de Oliveira Silva, explica que o sistema AxReg busca estruturar os dados do momento cirúrgico dos pacientes, mapear os indicadores e acompanhá-los.

“Uma cirurgia é um processo de entrega total. Hoje, no mundo, cinco bilhões de pessoas não têm acesso à anestesia segura. O anestesista é um dos médicos que mais trabalha com dados. Ele é o único médico que fica 100% do tempo com o paciente. Percebemos que o anestesista está usando papel e caneta enquanto o hospital inteiro é digitalizado”, afirma.

A tecnologia da startup utiliza dados do pré-operatório, do estado de transe durante a anestesia e do pós-cirúrgico para monitorar o paciente. Com isso, é possível trazer previsibilidade para o desfecho em saúde.

Diógenes utiliza um exemplo corriqueiro na vida de motoristas para explicar o funcionamento do AxReg: “Quando você busca um destino em um aplicativo de trânsito, você tem acesso a informações sobre tempo, trajeto e intercorrências no caminho. Isso ocorre pela busca e compilação contínua de informações do trânsito”.

O empreendedor salienta que, com mais tempo, o anestesista consegue direcionar um olhar mais empático ao paciente, que é justamente o que as máquinas não desenvolvem.

“Durante anos robotizamos diversas atividades com o foco no faturamento. Chegou a hora de deixar a máquina fazer isso para voltarmos a ter empatia, para possibilitar que o médico segure o braço do paciente, olhe nos olhos dele e diga: você está com dor?”.

Diógenes avalia que existe uma necessidade de entendimento sobre o conceito de inteligência aumentada, que é a inteligência humana potencializada pela Inteligência Artificial.

“Não é a máquina me substituindo, é a minha capacidade aumentada exponencialmente pela inteligência artificial. O robô vai roubar nosso trabalho? Não. Nós é que estamos ocupando trabalhos que podem ser robotizados”, destaca.

O CEO e fundador da IAssist, André Cavalcanti de Melo, possui um raciocínio semelhante. O “assistente médico” da empresa é um aplicativo baseado em IA, análise de dados automatizada para construção de modelos analíticos e processamento de linguagem natural usado por médicos, principalmente especialistas em oncologia.

O aplicativo é um sistema de apoio à decisão clínica que reúne dados do prontuário do paciente para que os algoritmos sugiram ao médico um percentual que indica a probabilidade de se tratar de um caso oncológico ou não. A análise é baseada em conhecimento gerado a partir da bibliografia médica, conteúdo acadêmico e a comparação entre dados textuais dos prontuários dos pacientes.

O funcionamento do aplicativo é simples: ele condensa os dados exatamente como estão descritos no prontuário do paciente e faz a correlação das palavras do documento com a de cânceres. Com o resultado, ele sugere ao médico um percentual e justifica para ele o que baseou a informação.

“A grande inovação é que existem outros sistemas que sugerem diagnósticos que utilizam imagem como em cânceres de cérebro, pulmão, mama, entre outros. No nosso aplicativo, ele utiliza apenas texto”, acrescenta André.

Para ele, além de ser uma ferramenta auxiliar no diagnóstico de um possível caso de câncer, a ferramenta agiliza e democratiza o acesso ao tratamento.

“O nosso público-alvo são médicos que fazem atendimento primário e secundário de pacientes que estão mais afastados dos centros de referência de tratamento. Enquanto o Sudeste tem mais da metade dos médicos e dos especialistas, com um número elevado de centros de referência, o Centro-Oeste e o Norte do país não vivem a mesma realidade”, pondera.

“Na busca de um possível caso de câncer, o quanto antes conseguirmos oferecer ao médico o suporte adequado para a tomada da decisão, para a definição do diagnóstico e início do tratamento, maiores são as chances de garantirmos o menor risco de mortalidade e a melhora da qualidade de tratamento”.

Entre as soluções apoiadas pela Eretz.bio, também está a proposta pela startup Entelai, que fornece uma análise de imagens médicas baseada em IA para o setor de saúde. O objetivo da empresa é empoderar os médicos com serviços como quantificação avançada de imagens, suporte ao diagnóstico e priorização de imagens.

Seguindo a mesma tendência, a RadSquare é uma healthtech especializada na fabricação e comercialização de hardware e software para diagnóstico médico assistido usando visão computacional e deep learning.

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