Como será a Inteligência Artificial da Apple
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Como será a Inteligência Artificial da Apple

Com uma história marcada pela inovação e pelo potencial de revolucionar setores inteiros, a Apple agora entra na corrida pelo domínio do mercado de Inteligência Artificial, ou como ela já começou a chamar: a “Inteligência da Apple”. 

Na WWDC 24, a conferência anual da marca para programadores, a Apple anunciou seu novo sistema, indo na contramão da tendência de grandes modelos como o ChatGPT e apostando em uma atuação diretamente nos dispositivos, oferecendo uma experiência mais personalizada e segura.

Quais são as inovações que a marca está trazendo para a IA? Como seus produtos, desde o iPhone até o Mac, podem se transformar com a integração de novas tecnologias de IA? Será que veremos novas colaborações com outras empresas de tecnologia ou uma intensificação das rivalidades?

Essas e outras questões você confere no episódio desta semana do podcast da MIT Technology Review Brasil, onde Carlos Aros e Rafael Coimbra analisam a entrada da Apple no mercado de IA e os desdobramentos estratégicos dessa movimentação.

Este podcast é um oferecimento do SAS.

[INTRO]

[CARLOS AROS]
Olá, eu sou o Carlos Aros e este é o podcast da MIT technology Review Brasil. Hoje, eu e o Rafael Coimbra vamos tratar desta corrida pela supremacia, e não é pela supremacia do desenvolvimento de inteligência artificial, é para ver quem vai dominar este mercado dentro dos seus produtos. Não estão nem preocupados, talvez neste momento, com o que essa, ou essas IAs vão oferecer, mas cada um quer o seu quinhão deste brinquedinho.

A Apple apresentou na WWDC, que é a conferência para desenvolvedores, o que eles chamam de Apple intelligence. A gente sempre vê a Apple fazer isso, ela puxa para o quintal dela aquilo que o mercado já batizou e já consolidou de outra forma, e ela traz para o quintal dela. E aí, dessa vez, a inteligência artificial, o AI virou o AI mas com outro sentido de Apple intelligence, que vai ser um conjunto de soluções de ferramentas baseadas em inteligência artificial que vão entregar uma IA personalizada dentro dos serviços da empresa, dos mais diversos serviços que a Apple oferece mas com um adicional. A promessa deles é de que vai haver um respeito a integridade e a privacidade dos dados dos usuários.

A Apple vem uma cruzada muito grande em relação a isso, mudando uma série de protocolos pra acesso a dados e tentando criar uma espécie de transparência maior na relação com os usuários e com parceiros, obrigando desenvolvedores a estabelecer limites aí para esse acesso e para utilização dos dados. Por fora, a gente tem nessa corrida, a gente tem o Google também, que já apresentou a IA dele, mas não tenta brigar direto com a Apple. O Google briga direto com a OpenAI, a ideia deles é ter é uma ferramenta mais parruda, recursos mais parrudos que já estão embarcados em outras soluções na mesma linha do que a OpenAI faz com os recursos que estão embarcados na Microsoft. E aí, no meio do caminho, a gente tem o anúncio de investimento milionário da Amazon, também em uma plataforma baseada em inteligência artificial, em motores de inteligência artificial, para também entregar recursos personalizados para soluções integradas da plataforma, do ecossistema Amazon. Então ele tem os quatro grandes players aí, reunidos. Cada um com foco, cada um tentando mostrar a sua força, numa corrida para ver quem vai abocanhar maior fatia desse mercado.

Correndo por fora, no meio de tudo isso, a gente ainda teve, nos últimos dias, o pronunciamento, se é que a gente pode chamar assim, do Elon Musk atacando a Apple e dizendo que, se houver essa movimentação, a iOS está fora de qualquer recurso que as empresas dele venham a oferecer. E ele fala do do X. O X está fora, portanto, da utilização dentro da plataforma Apple.
O jogo fica complicado. Muito marketing. Como dizem por aí, é muita espuma e pouco chopp, Rafael Coimbra.

[RAFAEL COIMBRA] 

Tem que tomar cuidado para o chope ali não cair dentro… Se bem que os smartphones hoje estão à prova d’água, à prova de chope. Blindados, né?

[Carlos Aros]
É que é tão pouco chopp em alguns desses casos aí, que não dá nem pra molhar o smartphone.

[Rafael Coimbra]  

[risos]
Mas ô, Aros, começando aí de de trás pra frente, só pra pegar essa tua última fala sobre o Musk. É importante a gente considerar que tem uma rixa, uma birra, vamos dizer assim, do Musk com a Open Ai.

Para a gente lembrar, ele foi um dos fundadores cofundadores da Open AI, colocou dinheiro. Estava ali até um determinado ponto em que ele se desentendeu com o pessoal e saiu fora. Há quem diga que o Musk até hoje não aceita o fato da OpenAI ter alcançado o sucesso que ela alcançou mais recentemente. E aí, ele teria ali uma inveja, alguma coisa do tipo, e que ele fica ali o tempo inteiro tentando minar a Open AI. Ele critica várias… já criticou várias vezes que a OpenAI deveria ser uma empresa, como o nome diz, focada para abertura, para democratizar o acesso a inteligência artificial e se tornou uma companhia com interesses comerciais. Então essa briga é antiga. Eu acho que a Apple acabou sofrendo um ataque indireto e, na verdade, o Musk queria prejudicar de alguma forma ali, implicar com a OpenAI.

Dito isso, se vai ser seguro ou não, é uma coisa que a gente vai pagar para ver. Quem é usuário da Apple,  vai apostar ali, confiar os seus dados em um ambiente em que a Apple promete jura de pés junto — ela enfatizou isso várias vezes na apresentação lá na conferência para os desenvolvedores — de que tudo vai ser extremamente fechado. Vai ser um sistema composto de partes. Então, a maior parte do processamento da inteligência artificial vai rodar no próprio telefone. Esses novos aparelhos, os mais modernos, já tem capacidade para suportar uma grande quantidade de informações analisadas, inclusive com inteligência artificial. Se precisar, a empresa anunciou também a criação de uma nuvem privada. Vai ter um Apple Cloud da vida, em que os dados dos clientes vão ser criptografados de ponta a ponta. Então a empresa garante que é 100% seguro todo esse processo, como já é. Quem usa o iCloud, tem essa camada de proteção, não são nuvens abertas. O que fica de dados dos clientes, permanece dentro desse ecossistema. O único ponto de contato com o mundo exterior, digamos assim, é exatamente o ChatGPT. Então, tinha muita gente ali esperando que a Apple anunciasse o seu próprio modelo de linguagem natural, tipo um ChatGPT, tipo um lhama tipo um gemini do Google, e a empresa fez uma opção mais conservadora — e eu já explico porque eu acho que essa estratégia faz sentido — mas não veio com um anúncio: “A nova inteligência artificial da Apple vai mudar o mundo.” Não. Olha, quando alguém fizer uma pergunta e, por algum motivo, os dados aqui e o sistema da Apple não conseguir responder, vai aparecer um pop up na tela da pessoa, “você quer usar o ChatGPT?”, e a pessoa vai usar, isso já acontece, né? Eu acho que esse esse argumento da privacidade ele é meio bobo porque, por exemplo, eu uso ChatGPT no meu telefone. Então, se houver brecha ela já existe, né? Não vai ser nesse novo sistema. Lembrando, é tudo consentido, não vai ser um processo automático, ninguém vai ser forçado a usar o ChatGPT. Usará se quiser. Vai ter uma combinação ali com a Siri, com outras informações, mas aí depende de você. Se você quer abrir suas informações para o mundo exterior.

Realmente, com a OpenAI, com o ChatGPT, a gente já não tem mais tanta transparência e tanta segurança de como esses dados estão sendo usados. É a grande discussão do momento. Quem está treinando esses modelos de IA? Que dados estão sendo usados ali? Mas no caso da Apple, voltando, eu acho que sim, o histórico da empresa mostra que ela tem preocupações, né? Inclusive, ela já brigou, já teve brigas homéricas com o FBI que tentava desbloquear o telefone para pegar informações de criminosos, e a empresa bancou, falou “não, isso aí é o problema da polícia, se vira. A gente aqui protege o cidadão.” Porque uma vez que ela abrisse esse sistema para um FBI da vida, ela poderia criar uma brecha para que fosse usada por outras pessoas. E a empresa bate firme na questão da privacidade.

E aí, um último ponto, Aros, que é importante. É que, diferentemente do Google — a gente estava falando, né? Você estava falando da IA — realmente, essa IA da Apple não briga diretamente com os modelos de IA. Mas se a gente der um passo atrás, fizer aí um “zoom out” e pensar em ecossistema, em sistema operacional, em soluções tipo, de um lado o iOS, do outro lado o Android, do Google. De um lado, todos os sistemas lá do Keynote, dos aplicativos da Apple, e do outro do Google. Quando a gente olha esses dois mundos, aí tem uma diferença e uma briga direta, que é a de quem vai dominar o melhor ecossistema.

No fundo a gente fica refém, né? De um de um lado você está usando, sei lá, o telefone Motorola, Samsung com Android. Do outro, você está usando o iPhone com iOS. E aí, a coisa complica porque o modelo de negócio do Google é muito baseado em publicidade digital. Ele usa os dados das pessoas, de todos nós que usamos soluções Google, para entender quem nós somos e, com isso, vender essas informações em forma de personalização para quem vai fazer anúncio digital. É assim que funciona o YouTube, é assim que funciona também o Facebook, para dar um exemplo de outro concorrente. Já na Apple, não. A Apple ganha a maior parte do seu dinheiro vendendo produto e serviço. Vende iPhone, vende Mac, vende reloginho. Então ela não tem tanta necessidade de usar os dados de pessoas, de seus consumidores para gerar receita. Por isso que ela insiste tanto na tal privacidade. Por isso que quando você instala um aplicativo no iPhone, a primeira coisa que ele pergunta é “você quer compartilhar essas informações com o desenvolvedor desse aplicativo?”, e você pode optar por não, porque para a Apple não faz tanta diferença. Ela tem como um valor, como um princípio, essa questão da privacidade e personalização.

Agora, se vai dar certo são outros 500, porque o que está em jogo aqui é a IA que está na frente, essa que chama atenção do ChatGPT, de você conversar ou com o Google, ou com o Gemini. Você está conversando com a máquina, está olhando o mundo através dos olhos da IA, ou se essa IA vai ser mais protagonista nos bastidores, na integração do que eu tô chamando aqui de ecossistema. É essa Batalha que a gente vai ver nos próximos meses.

[CARLOS AROS] 

Ô, Rafa, é interessante ver, na outra ponta, o movimento que a Amazon está fazendo, correndo por fora, investindo no desenvolvimento de uma IA proprietária, na mesma medida em que a Google, enfim, todos esses exemplos que a gente citou aqui, também estão fazendo muito focados num outro tipo de performance, num outro tipo de entrega, porque a relação da Amazon também, enquanto plataforma, é diferenciada em relação ao Google à própria Apple, pela natureza dos negócios. Mas tem também uma interface muito grande com o usuário lá na ponta. Só que o grande ponto da Amazon, está em lucrar enquanto AWS, com desenvolvimento de IA por terceiros. Ou seja, eles anunciaram aí um crédito milionário para startups, para atrair elas para dentro do ecossistema AWS.

Óbvio que isso vai fazer com que a receita de AWS, que vem crescendo, acho que nos últimos dois períodos apresentou crescimento. É, de longe, acho que o núcleo mais interessante, comunidade de negócio da Amazon, assim como os sistemas de pagamento de aplicativos tem uma importância grande pra pra Apple (porque gera recorrência, essa coisa toda). E es estão buscando se fortalecer como um provedor de recurso para os desenvolvedores de IA. É uma outra estratégia que no fim do dia, atende aquela história, “trago esses caras para cá, eles estão perto de mim, eu ganho numa ponta e ajudo esses caras a crescerem. Quando eles crescerem, os que forem interessantes já estão debaixo da minha asa.” É uma outra estratégia, é um outro olhar, talvez em uma dinâmica diferente mas beliscando algo similar ao que a Microsoft fez quando, lá atrás, aportou numa OpenAI que ainda estava dando os primeiros passos, né?

[RAFAEL COIMBRA] 

É, essa estratégia da Amazon, Aros, é muito interessante e ela se aproxima a um modelo chinês. Lá na China, o pessoal também está usando muita IA para rodar nos bastidores de E-Commerce. Quando a gente fala de inteligência artificial, é preciso deixar bem claro que é um mundo gigantesco, é um grande guarda chuva. O que tem mais saltado aos olhos é a tal IA generativa, modelo ChatGPT. Mas a gente não pode esquecer que inteligência artificial é muito mais que isso, e essas big techs todas já usam IA há muito tempo. O Google foi a primeira empresa que, lá em 2016, falou assim “não, agora a gente é AI first.” A Apple já usa inteligência artificial. Tudo que você tem de reloginho, de sensor, de giroscópio combinado a software, de análise de dados, foto, né? O reconhecimento de foto. Isso já existe há muito tempo. Então, tudo isso era inteligência artificial, só que é um outro tipo de inteligência artificial. Da mesma maneira, a Amazon tem essa inteligência artificial que faz com que toda a cadeia logística, todo o setor de processamento de informações, de coletas de dados dos consumidores, tudo isso que também é IA, gere um valor muito importante para uma empresa que trabalha com comércio eletrônico. A outra ponta dessa, que é a IA generativa ou humanizada, vamos chamar assim, que foi o caso da Alexa, né? Vamos lembrar, a Siri da Apple é de 2011, a Alexa é de 2014. E quando surgiram essas primeiras IAs com cara ou vozes humanas, foi um espanto na época. “Pô, caramba, agora a gente conversa com as máquinas.” O fato é que, dez, 13 anos depois, no caso da Siri, até hoje elas são burras, se comparadas às novas e IAs generativas, porque elas entendem, claro, comando. Então o reconhecimento de voz foi algo que evoluiu absurdamente nos últimos anos, é praticamente perfeito. A máquina hoje entende o que a gente fala, mas não necessariamente o que a gente está querendo com aquilo, né? Ela entende ali o comando, mas não sabe às vezes processar. Se sai alguma coisa fora da caixa, fora do que ela foi pré programada, a coisa complica. Então essas IAs mais antigas perguntam “ó, não, não entendi não, não tô sabendo o que fazer”.

No caso de um ChatGPT, ele gera uma resposta probabilística. Então são perfis diferentes. E, novamente, quando a gente olha para essas IAs mais rudimentares, elas passam a ser algo tosco. Claro, se você começa a embarcar algo tipo ChatGpt ou um Gemini por trás de uma voz, aí a coisa fica muito mais interessante, fica muito mais humana. Eu acho que a Amazon anunciou até esses dias alguns aprimoramentos na Alexa, mas não sei se ela vai querer embarcar nessa briga de ter realmente um assistente sensacional que resolva sua vida, porque ela é muito nichada. Como eu falei, Google e Apple tem 1000 aplicações que podem rodar com IA. A Amazon ela é um comércio eletrônico. Se ela focar nessa parte, eu acho que ela vai ser bem sucedida. E, não esquecendo isso, a IA rodando por trás de comércio e como você falou, Aros, fornecendo. IA em nuvem pra quem quer alugar um espaço.

Eu falei, aqui, né? A apple está criando uma nuvem privada só para cliente. A Amazon, a Microsoft e o Google vendem nuvens terceirizadas, você aluga espaço e, obviamente, quando elas chegam num nível muito próximo de competição, onde essas soluções são basicamente a mesma coisa, tanto faz eu alugar espaço num dos servidores dessas 3 grandes, a IA começa a ser um grande diferencial competitivo. Então quem oferecer mais soluções para que aqueles dados dos consumidores – e aí é difícil pra caramba, porque são empresas de vários setores – mas quem oferecer uma solução que agregue um valor a esse aluguel de espaço virtual, essas empresa é que vai ter a capacidade de sair na frente.

[CARLOS AROS] 

Rafa, para a gente fechar esse bloco aqui, a minha grande incógnita no meio dessa loucura que a gente está vendo e muita notícia, muito anúncio, etc, é: como as plataformas vão entregar para o usuário essa percepção de vantagem, e como o usuário vai entender cada um desses recursos? E eu digo isso porque quando a gente conversa com os profissionais que lidam com tecnologia dentro das grandes empresas , e consultorias que estão fazendo…Esses dias eu conversei com um cara que trabalha numa consultoria pra soluções de inteligência artificial dentro das empresas. Então, ele é vinculado a uma grande companhia de tecnologia e ele é responsável por fazer a educação dos colaboradores das empresas que compram soluções dessa big tech. Olha que loucura. Então ele tem uma empresa que trabalha com treinamento e afins. E aí ele falou assim: “cara, o nível de maturidade das pessoas hoje, quando você vai mapeando as áreas, para o que a gente entende hoje como inteligência artificial, então, pequenas aplicações, o que está rodando em determinados lugares e como o cara usa aquilo e tal, é muito baixo.” Então, você tem poucas pessoas com conhecimento bacana que usam nesse modelo de copiloto mesmo. “Eu tenho aqui esse recurso e que vai me ajudar a entregar mais e melhor do que eu tenho que fazer”. Mas tem uma galera que não faz a menor ideia, tem às vezes uma Ferrari na mão e dirige como se tivesse um fusca. A minha pergunta pra você é a seguinte, qual é a tua visão sobre a ponta final? A linha de chegada dessa primeira fase de anúncios e de implementações, de lançamentos que essas empresas estão fazendo? Agora o trabalho é o de formar ou de educar o usuário, porque fazer barulho eles já fizeram, mas agora as pessoas precisam usar adequadamente esses recursos, né?

[RAFAEL COIMBRA]
Exatamente, Aros. Só que eu acho que isso não vai acontecer pela ponta do consumidor final. Ninguém tem muita paciência, ninguém quer perder tempo. Essa coisa de todos sermos agora engenheiros de prompt, para sabermos fazer a pergunta certa. A verdade é que, como você mesmo ressaltou, em algum momento é engraçadinho, é legal, você começa a brincar ali com a ferramenta, mas chega uma hora que você cansa, né? Estou falando de uma maneira geral.

Eu acho que quem vai assumir essa função são as big techs. Isso já está acontecendo. Então, no momento em que você tem um anúncio como esse do Google, ou como a Microsoft que coloca uma OpenAI rodando ali por trás num copilot, o Google coloca o Gemini rodando por trás das das suas soluções. Quando – vou usar um termo aqui que eu gosto muito e uso muito em tecnologia -. Quando essas tecnologias se tornarem invisíveis, imperceptíveis, aí elas atingirão o sucesso máximo. Ou seja, quando a gente esquecer da IA, a gente não falar mais disso, aí pra mim é o ápice. Por quê? Porque nós temos essa preguiça natural de ficar “Ah, eu não quero ficar aprendendo mais uma coisa, eu tenho tanta tarefa pra eu fazer no meu dia a dia, eu quero que alguém facilite a minha vida.” Então, quando a IA deixar de ser pirotecnia e realmente começar a entregar funcionalidades práticas, aplicações, “vai melhorar, vai reduzir o meu tempo? vai fazer um resumo de um texto? Pô, beleza, aí vi vantagem. Vai chamar um carro de aplicativo pra mim sem eu precisar? Aí eu vi vantagem.” Quando a gente começar a enxergar isso, a coisa muda de figura e quem tem hoje essa faca e o queijo na mão, ao meu ver são essas duas grandes. Eu tenho Apple de um lado e Google do outro. Claro, o Facebook está correndo lá por trás, mas o Facebook ele tá, né…O grupo meta, Facebook, Instagram, WhatsApp, ele está num modelo diferente. Ele não oferece tantas facilidades quanto essas outras duas gigantes que eu estou citando aqui. A Microsoft também está bem e ela fica um pouco diferente porque ela está num ambiente mais empresarial, num ambiente mais de soluções corporativas para aumentar a produtividade. Eu acho que a Microsoft está um pouquinho ali correndo por fora e Apple e Google aqui disputando o sistema operacional de celular, de tablet, de reloginho. Essa é a briga.

E aí, só pra constar, Aros, a gente não citou mas é interessante notar que algumas outras empresas que lançaram recentemente dispositivos como se fosse um ChatGPT físico. Teve uma empresa que fez muito sucesso há pouco tempo, lançando um aparelhinho chamado Rabbit R1, que é um aparelhinho laranja, que é basicamente um ChatGPT físico. Você carrega ali um aparelhinho e fica fazendo pergunta para ele. E mais recentemente ainda, uma outra empresa que lançou aquele PinAI, que você coloca tipo um broche, tem uma câmera, você conversa com a com a inteligência artificial e muita gente que testou esse equipamento achou uma grande perda de tempo. Por quê? Porque essas inteligências artificiais que são feitas à parte, elas são desconectadas das outras aplicações que a gente usa, e-mail, compra, se você não consegue integrar uma IA à um sistema que você já está acostumado, a percepção que eu tenho é que não vai dar em nada, vai ser um brinquedinho, você vai achar interessante, “que legal. Conversei com a IA  aqui.” Daqui a meia hora você falou assim “pô, tá, não serve pra nada. É legal mas não serve pra nada.”

Agora, esses ecossistemas que tem as nossas vidas nas mãos, né? Você pega o Google. Quem aqui não usa alguma ferramenta Google? Quem aqui não usa alguma ferramenta Apple? São dois mundos que tinham ali a sua briga por sistemas operacionais de celular. O Android é o dominante até hoje, mas a Apple está correndo por fora e talvez, colocando essa IA rodando muito bem feita, ela consiga captar mais clientes pra ficar aqui nesse ecossistema.
Então, em resumo, é isso. Quando quando a gente parar de falar de IA, a batalha estará vencida.

[CARLOS AROS]
E talvez o legislador esteja se antecipando em alguns lugares e criando um monstro que não precisaria existir. A omissão é ruim mas a antecipação em algumas decisões também acho que pode ser.
Rafa, antes da gente fechar, o que que você está olhando aí para esta semana?

[RAFAEL COIMBRA]
Estou olhando para o Elon Musk, Aros, mas em uma outra frente, né? Ele anunciou agora no X, antigo Twitter, que vai ocultar as curtidas. A ideia é que as pessoas possam curtir postagens mais livremente, sem serem cobradas por isso. Então o que a gente observa no Twitter, historicamente, é que sempre foi uma plataforma mais aguerrida, uma plataforma ali, no popular aqui, das tretas, você vê muita gente brigando politicamente, inclusive, no Twitter. Obviamente, quando alguém curte alguma coisa, essa curtida pode gerar, da parte de quem curtiu, um apoio mas, da parte de quem é um arqui-inimigo, um rival, vai gerar uma informação preciosa. Então, a pessoa pode entrar na conta de alguém e ver “olha, fulano curtiu ciclano, logo, ele tá apoiando essa pessoa.” E aí tem ali uma chuva de cancelamento, uma chuva de atividades dentro da plataforma digital que fazem com que essa briga fique ainda mais acirrada.

Então, a tentativa aqui é de não permitir que outros vejam as curtidas alheias. Quem é dono da conta, do @, vai poder ver as curtidas, vai saber quem curtiu a postagem mas o mundo externo não saberá. É uma tentativa de tentar, de repente, amenizar um pouco os ânimos. O Elon Musk já declarou em outras vezes que, por ele, não teria nenhum tipo de métrica. Ele acha que isso tudo aí não ajuda em nada. Eu já discordo, porque se nesse sentido, sim, eu acho que tirar as curtidas, anonimizar as curtidas, pode não gerar tanta briga. Por outro lado, para quem é marca, para quem quer anunciar, isso é importante. Você ter acesso aos dados, à saber, não só a quantidade, mas quem é que esta se engajando com aquela postagem, faz sentido para o mundo do marketing digital. No momento que você começa a remover esse tipo de informação, aquilo que já estava faltando hoje para o Twitter, muitos anunciantes acabaram deixando a plataforma depois que o Musk assumiu, isso obviamente vai gerar menos informação. Então como é que eu vou investir em alguém? Eu quero contratar um influencer, se eu não sei quem está engajando com ele, isso pode ser um problema e talvez eu, enquanto marca, vou procurar uma outra alternativa, uma outra plataforma, como o Instagram. Então, eu não sei se, do ponto de vista financeiro, faz sentido. Eu entendo, nisso eu até concordo, acho que essa questão de curtida acaba inflando, inflamando os ânimos, mas, do ponto de vista do modelo de negócios, eu não sei não. Não levo muita fé, não.

[CARLOS AROS]
Bom, já que falamos de Elon Musk. Eu vou falar do concorrente do Elon Musk, a Amazon anunciou uma parceria com a com a Sky. Não com a Sky, mas com a Vrio, que é a é a empresa que opera a Sky, e vão lançar um serviço de internet por satélite similar a Starlink. Faz sentido essa parceria, uma vez que a operadora tem a distribuição do sinal da TV via satélite, então vai usar essa rede de pequenos satélites que estão em uma altitude mais baixa, enfim, eles não estão…acho que é algo em torno de 600 km de distância, e conseguem entregar esse sinal num modelo muito similar ao que a Starlink propõe. Ele vai operar no começo do ano que vem, talvez até a metade do ano que vem, a partir da Argentina. E aí vem com um cronograma que inclui Brasil, Chile, Uruguai, Peru, Equador e Colômbia. A ideia é que esse programa, que vai se chamar projeto Kuiper, não sei a pronúncia exata, ele dê conta de concorrer com a Starlink do Elon Musk, mas mira também um movimento importante em relação à própria existência da operadora, né? Porque a gente vê os números de acesso à TV paga, ao pay TV, caindo aqui no Brasil ano após ano. Então, esse universo, esse mercado vem retraindo, apesar do ibope e outros métodos de aferição não indicarem uma redução da preferência do consumidor pela TV no linear, existe uma migração natural para os modelos digitais, tanto é que as operadoras têm embutido cada vez mais serviços dentro da cesta que oferecem. Entre eles, assinaturas de streamings que você pode abrir diretamente pela caixinha, pelo aplicativo da operadora. O box que você acessa pela internet, comprando créditos de canais. Tudo isso faz parte de um esforço, de tentativas de sobreviver.

E aí, é óbvio que a Amazon, de olho no mercado latino americano, que tem um acesso precário à internet, é importante dizer. A América Latina está numa posição pouco privilegiada em relação à infraestrutura de internet. E aí, como não há essa infraestrutura, aquele que supre isso é o serviço por satélite, porque você não vai precisar de antenas, de torres de transmissão, cabeamento da ótica, estações e toda essa parafernália que dificulta a expansão da rede, que é exatamente o que nós estamos vendo aqui no caso do 5G. Não tem acelerado porque há um processo complicadíssimo de infraestrutura para ser completado. E aí, evidentemente, o desespero é para que as alternativas cheguem. No caso brasileiro, em várias regiões, o Starlink se viabilizou.

Então é um movimento interessante esse da Amazon, em parceria com a dona da Sky, justamente para entregar essa cobertura para um mercado que tem demanda, segundo eles, ao mesmo tempo em que, em mais um ramo de negócio, a Amazon faz, o Bezos tenta fazer sombra ali de alguma maneira para o movimento das empresas do bilionário aí, do Elon Musk. Então, é algo pra gente entender como vai acontecer, mas é mais um mercado em que esses dois gigantes se colocam em lados opostos do ringue. Eu acho que quanto mais concorrência, mais interessante o jogo para o consumidor.

Agora a gente precisa observar todas as outras questões relacionadas a esses serviços. Aí tem ainda uma zona cinzenta, vamos colocar assim, de alguma maneira, envolvendo esse universo dos satélites que ficam nos rondando aqui, e muitos deles operados por essas empresas que tem, enfim, objetivos muito específicos, que nós precisamos entender exatamente quais são. Porque, seguramente, eles vão muito além, Rafa, de entregar o sinal de internet para população.

Vamos nessa, Rafael Coimbra?

[RAFAEL COIMBRA]
Vamos nessa, Aros. Um abraço pra você, para todo mundo que está nos ouvindo.

Se você estiver no Rio de Janeiro até esta quarta-feira, dia 19, nos encontre lá na cidade das artes. Estaremos num super evento chamado Energy Summit. Vamos discutir tendências, tecnologias, como a gente pode fazer a transição energética de uma maneira sustentável e eficiente. São todos muito bem vindos. Estaremos lá, eu, Carlos Aros, André Miceli, todo nosso time. Vai ser muito legal conversar com vocês se vocês estiverem pelo Rio de Janeiro.

Um abraço!

[CARLOS AROS]
E óbvio, a cobertura de tudo que vai rolar no Energy Summit, estará nas plataformas da MIT Technology Review Brasil. Então, se você ainda não nos segue nas redes sociais, faça isso. Se você ainda não assina a MIT Technology Review Brasil, faça isso porque, seguramente, a partir de tudo o que vai rolar nesses três dias de evento, serão três dias intensos, nós vamos gerar muito conteúdo relevante, muita coisa importante para você consumir. Então fique conectado aqui com a gente.

E tem o podcast do nosso tópico de energia, que o Hudson apresenta, que traz insights e traz informações, análises muito importantes para debater esse setor que é estratégico para o nosso futuro.

Rafael Coimbra, um grande abraço. Até a semana que vem.

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