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A evolução tecnológica está redefinindo a medicina e transformando a forma como os profissionais de saúde diagnosticam e tratam doenças. Da telemedicina ao advento da Inteligência Artificial e desenvolvimento de dispositivos avançados, a inovação na saúde está exigindo que os médicos desenvolvam competências não ensinadas na universidade, como negócios, processos, tecnologia e análise de dados.
A pesquisa “Os impactos da tecnologia para uma medicina que se moderniza”, realizada pela consultoria Deloitte com 228 médicos no Brasil, entre 31 de março e 10 de maio de 2024, aponta que duas entre as quatro principais mudanças necessárias para a carreira de saúde do futuro serão ligadas à inovação tecnológica.
De acordo com o levantamento, 55% dos entrevistados defendem a capacitação em empreendedorismo e negócios, 50% o desenvolvimento de habilidades para trabalho em equipe, 44% competências relacionadas ao uso de dados e 43% treinamento em novas tecnologias. É necessário ponderar que 73% dos entrevistados atuam na região Sudeste, em clínicas especializadas (31) e hospitais privados (21%) ¹.
Os participantes destacaram quais tecnologias gerarão maior impacto em seu trabalho. Segundo a pesquisa da Deloitte, a manipulação genética e as terapias celulares foram as mais citadas, junto com as tecnologias diagnósticas compostas por miniaturização de dispositivos, nanotecnologia e diagnósticos domiciliares. “Os médicos têm apetite para ampliar a adoção da tecnologia, mas a responsabilização por erros, custos e riscos cibernéticos ainda são preocupações. A definição sobre a responsabilidade em erros aflige 6 em cada 10 entrevistados”, destacou a pesquisa¹.
Dupla jornada
Head de Inovação do Instituto do Coração (Incor), Guilherme Rabello, avalia que o médico inovador é uma sucessão do médico pesquisador. Esse profissional pesquisa a transformação de processos, a incorporação de produtos e a melhora de modelos para agregar valor à inovação. “A mudança não pode vir só do indivíduo, mas sim de todo o ambiente. As empresas precisam olhar a inovação como um pilar de sustentação do negócio”, alerta Rabello.
Na prática, a maioria parte dos médicos que atua na área de inovação trabalha em paralelo com a rotina diária de atendimentos, afirma Alessandra Menezes Morelli, CEO da Thummi, plataforma de monitoramento remoto de pacientes oncológicos. “São poucos os profissionais que se dedicam exclusivamente à tecnologia. A exceção é quem trabalha em alguma instituição de pesquisa ou ocupa algum cargo específico em inovação”, analisa.
Capacitar médicos para esse mercado em ascensão é o desafio do mercado, destacou o estudo da Deloitte. Mas a realidade está mudando a favor da inovação. Segundo Rebello, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) lançou uma disciplina optativa aberta em inovação. Desta forma, estudantes de medicina aprendem em parceria com alunos de diferentes cursos, como engenharia e marketing. “A ideia é formar profissionais multidisciplinares com competências em tecnologia na área da saúde. Médicos já formados também podem trocar de área por meio de MBAs”, indica Rabello, que é engenheiro.
Artigo científico The next generation of evidence-based medicine (A próxima geração de medicina baseada em evidências, em tradução livre), publicado em janeiro de 2023 na revista Nature, aponta que os últimos 30 anos registraram grandes avanços na área científica, desde a melhor compreensão da fisiopatologia das doenças até ao desenvolvimento de terapias que alteram o curso e o resultado das doenças em todas as áreas da medicina.
Mudanças na pesquisa clínica
No entanto, o texto destaca que o sucesso de futuras pesquisas clínicas depende da mudança na forma como elas são concebidas, conduzidas, monitoradas e adaptadas. A pesquisa sugere que estratégias inovadoras e projetos experimentais são necessários para impulsionar avanços clínicos e melhorar a saúde pública. “Os silos precisam ser quebrados. Os padrões de cuidados e os ensaios clínicos são vistos atualmente a partir de diferentes espectros, mas o objetivo geral de ambos é melhorar os resultados de saúde”, concluiu o artigo².
Mas não só grandes pesquisas científicas que criam disrupção na área da saúde. A maioria das tecnologias de sucesso na área da saúde surge a partir do incremento de um produto ou serviço já existente, aponta Alessandra, da Thummi. “As inovações começam como um paradigma e depois viram tecnologia”, explica ela.
Segundo Rabello, para que essas inovações cheguem aos pacientes por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) é necessário que profissionais da inovação entendam que existe lentidão nos processos. “Muitas startups que tentam oferecer seus serviços falham porque não entendem como o sistema trabalha. Mas o SUS está se abrindo e entendendo que o estado brasileiro precisa ter uma iniciativa de digitalização para transformar o relacionamento [com pacientes]”, conclui o head do Incor.
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PP-UNP-BRA-4900 – Julho/24