IA na oncologia: precisão e agilidade do diagnóstico ao tratamento
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IA na oncologia: precisão e agilidade do diagnóstico ao tratamento

Avanço científico permite diagnóstico precoce de câncer por meio de algoritmos e monitoramento digital de pacientes em cuidados paliativos; desafio é democratizar ferramentas.

Por centenas de anos, o diagnóstico do câncer foi marcado pela análise em microscópio de amostras de tecidos colhidos por biópsia. Com o avanço da tecnologia, os patologistas passaram a ter acesso a esse material digitalizado em altíssima resolução para analisá-lo com mais precisão, por meio da Inteligência Artificial (IA), e para compartilhá-lo com pesquisadores de todo o mundo em um processo de aprendizado colaborativo.

Pesquisa publicada em 2021 na revista científica The Journal of Pathology por pesquisadores do Grupo Oncoclínicas destaca o potencial da IA na oncologia. Segundo o estudo, os algoritmos podem acelerar em cerca de 65% o diagnóstico de tumores de próstata, reduzindo os falsos negativos, oferecendo mais assertividade e ampliando o acesso à saúde.
Oncologista clínico da Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da Oncologia D’Or, Pedro Henrique de Araújo Souza (SP167748) destaca que a tecnologia está presente em diversas etapas do tratamento dos pacientes — acelerando processos e melhorando a acurácia dos resultados. “Os algoritmos estão acelerando o diagnóstico de câncer de pacientes que não fizeram seus exames preventivos durante o pico da Covid-19”, analisa o especialista, que também é representante regional da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica no Sudeste.

O Hospital de Amor de Barretos, em São Paulo, é referência na prevenção do câncer da mama. Em 2020, a instituição implantou a ferramenta SmartDR, que promete fazer uma dupla leitura dos exames de mamografia com apoio da IA. O sistema foi criado pela startup norte-americana Aquila Med. Com mais de 98% de confiança na predição dos resultados benignos, a tecnologia se baseia no rastreamento por mapas de cor de sensibilidade e especificidade em relação às observadas na imagem. Desta forma, o sistema agiliza a decisão entre a leitura humana e da máquina e prioriza as filas de trabalho.

Silvia Sabino (SP71835), médica radiologista do Hospital do Amor de Barretos, explica que o termo dupla leitura significa que a mamografia é revista por dois radiologistas de forma independente ou interpretada em conjunto. É uma prática padrão na Europa e obrigatória dentro dos programas de rastreamento mamográficos. “Atualmente, 100% da produção de mamografias está automaticamente passando pela ferramenta de Inteligência Artificial, promovendo um aumento de produtividade e qualidade de diagnóstico e redução de carga de trabalho”, afirma a médica, em texto divulgado pela instituição².
Assim como o Brasil, o Reino Unido também adota a SmartDR no diagnóstico de câncer de mama. Pesquisa International evaluation of an AI system for breast cancer screening (Avaliação internacional de um sistema de IA para rastreio do cancro da mama, em tradução livre), publicada em 2020 na revista Nature, revelou que o sistema norte-americano superou radiologistas britânicos e foi mais preciso no diagnóstico.

“Executamos uma simulação em que o sistema de IA participou do processo de leitura dupla usado no Reino Unido e descobrimos que a IA não manteve um desempenho inferior e reduziu a carga de trabalho do segundo leitor em 88%. Essa avaliação robusta do sistema de IA abre caminho para ensaios clínicos para melhorar a precisão e a eficiência do rastreio do cancro da mama”, concluiu o estudo³.
IA no tratamento oncológico

Representante Regional da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica no Sudeste, Araújo Souza conta que, além de agilizar o diagnóstico, ferramentas tecnológicas também emitem alertas aos médicos sobre emergências dos pacientes durante o tratamento oncológico e oferecem um maior intervalo de progressão da doença.

O destaque, diz ele, ficou com o lançamento do ePro, plataforma de monitoramento digital de sintomas com resultados relatados pelo paciente, apresentado no Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) em 2016. “O sistema acompanha pessoas com câncer em cuidados paliativos em quimioterapia e emite alertas para uma equipe de controle e um médico assistente quando elas têm alguma emergência, permitindo uma orientação antecipada”, descreve o oncologista.

De acordo com o estudo Feasibility of Large-Scale Implementation of an Electronic Patient-Reported Outcome Remote Monitoring System for Patients on Active Treatment at a Community Cancer Center (Viabilidade da implementação de sistema eletrônico de monitoramento remoto de resultados relatados pelo paciente para pacientes em tratamento ativo em larga escala em um centro comunitário de câncer, em tradução livre), o sistema de monitoramento é efetivo e tem alto nível de envolvimento do paciente no longo prazo. A pesquisa, publicada na revista científica da Asco em 2022, acrescenta que a maioria dos casos reportados pelos 923 pacientes que utilizaram o ePro pôde ser resolvida pelos enfermeiros, ou seja, a intervenção médica foi raramente necessária.

Democratização da tecnologia

Apesar do avanço científico na área oncológica, oferecer essa tecnologia na saúde pública e suplementar continua sendo um grande desafio, pondera o oncologista do INCA. “Há diversos centros investindo no Sistema Único de Saúde (SUS), mas aquém do que a gente pode oferecer. A gente também tem muita informação, mas essas informações estão em estruturas diferentes, que não se falam”, afirma.

Ainda assim, Araújo Souza conclui que as ferramentas com IA surgiram para melhorar a vida dos pacientes, agilizar processos e proporcionar maior precisão ao trabalho dos médicos. “O componente humano dentro da área da saúde é insubstituível, mas pode ser melhorado. Nada do que a gente faz, se não for medido no início e no final, vai ter significado”.

Referências:
¹da Silva LM, Pereira EM, Salles PG, Godrich R, Ceballos R, Kunz JD, et al. Independent real-world application of a clinical-grade automated prostate cancer detection system. The Journal of Pathology [Internet]. 2021 Jun 1;254(2):147–58. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33904171/
²Hospital de Amor utiliza tecnologia de inteligência artificial na luta contra o câncer de mama [Internet]. Hospital de Amor. 2020 [cited 2024 Feb 2]. Available from: https://hospitaldeamor.com.br/site/hospital-de-amor-utiliza-tecnologia-de-inteligencia-artificial-na-luta-contra-o-cancer-de-mama/
³McKinney SM, Sieniek M, Godbole V, Godwin J, Antropova N, Ashrafian H, et al. International evaluation of an AI system for breast cancer screening. Nature. 2020 Jan;577(7788):89–94.
⁴Cherny NI, Parrinello CM, Lavi Kwiatkowsky, Hunnicutt J, J. Thaddeus Beck, Schaefer E, et al. Feasibility of Large-Scale Implementation of an Electronic Patient-Reported Outcome Remote Monitoring System for Patients on Active Treatment at a Community Cancer Center. Oncology Pratice. 2022 Dec 1;18(12):e1918–26.

PP-UNP-BRA-4772 – Julho/24

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