Como a IA beneficia o mercado de trabalho
Inteligência artificial

Como a IA beneficia o mercado de trabalho

A Inteligência Artificial está transformando os modelos de trabalho, contribuindo e ampliando funções, criando carreiras, sem substituir o papel essencial do humano na inovação e na criatividade.

Banner indicando a posição do botão de download do artigo em formato pdf

Com toda inovação tecnológica, surge sempre a dúvida e a reflexão de como a inovação irá transformar o mercado de trabalho e quais as suas contribuições e mudanças. Uma coisa é certa e pode-se afirmar: as tecnologias caminham lado a lado com o potencial inovativo humano, acelerando o avanço econômico e gerando novas oportunidades profissionais.

Atualmente, com o avanço dos modelos de IA generativa, a tecnologia se integra não apenas aos processos empresariais, mas também a diversas esferas como educação, saúde e pesquisa científica, revolucionando a maneira como interagimos com o conhecimento e desenvolvemos soluções. Uma pesquisa da McKinsey indica que 70% das empresas podem ter implantado pelo menos uma categoria de tecnologia de IA. Ainda de acordo com o mesmo estudo, até 2030, o impacto potencial da inteligência artificial na atividade econômica global pode chegar a cerca de 13 trilhões de dólares.

Mas ao contrário do que muitos pensam, a IA não implica na reformulação radical das posturas de trabalho, mas no resgate de habilidades que talvez nós tenhamos, ao longo do tempo, valorizado menos: a capacidade crítica e o pensamento analítico. A automação deverá ficar cada vez mais a cargo da tecnologia, ao passo que a atividade criativa terá, em nós, os grandes protagonistas. Para utilizar a metáfora do parágrafo anterior, com um transporte adequado, as distâncias diminuem, e o destino se torna visível no horizonte.

Recentemente, o Linkedin afirmou que 10% dos contratados em 2024 assumem cargos que não existiam nos anos 2000. Dentre eles, estão o de cientista de dados, gerente de sustentabilidade e engenheiro de IA, por exemplo. É importante destacar, todavia, que esses novos cargos não são motivo para alarme, mas sim indicadores da aceleração do mercado. Assim, o investimento em formação e atualização profissional será um fator decisivo nos próximos anos.

Para as organizações, é fundamental criar um contexto em que as tecnologias que se apoiam em AI e GenAI estejam alinhadas à estratégia da empresa. O crescimento econômico e o incremento da produtividade se darão também pela liberação do tempo das pessoas gastos em atividades de menor valor, para um engajamento em atividades de maior valor agregado. Diante disto, criar e fomentar novos modelos operacionais que facilitem e incentivem que as pessoas de fato liberem seu potencial para a real criação de valor dentro daquele contexto.

Na ótica do profissional, isso implica na necessidade de aprender a atuar em parceria com a tecnologia, entendendo-a na condição de copiloto. Aqui entra um contexto mais interessante e desafiador que é aquele de aprimorar cada vez mais uma visão macro do seu trabalho, sabendo como a IA pode impactar o comportamento dos consumidores, as vendas do produto (ou do serviço) e as relações dentro do ecossistema corporativo, formulando prompts, elaborando conjunto de dados e garantindo que atuação da tecnologia gere bons frutos e que ele possa de fato agregar mais valor com seus insights.

Mas atenção: agora, errar é mais que humano. Para tornar menos dramática a chegada dos modelos de inteligência artificial, não devemos olhar para os datasets enquanto arquivos imaculados, visto que a IA também pode “alucinar”, isto é, fornecer dados inverídicos. Esse é outro contexto que demanda a atuação de agentes humanos, capazes de supervisionar o modelo e realizar sua manutenção.

Surge, assim, a necessidade de profissionais dinâmicos, especializados em ética de IA, e que assegurem o desenvolvimento responsável das tecnologias. São desejados, também, especialistas em automação, instrutores de IA – responsáveis por treinar modelos, selecionar e rotular conjuntos de dados e garantir a precisão e a confiabilidade dos sistemas –, especialistas em interação homem-máquina, e analistas de políticas de IA. Acima de tudo, é necessário que as funções de trabalho sejam cada vez mais híbridas, no sentido em que combinam a experiência em IA com o conhecimento específico de determinado setor. Em resumo, não se substituem as pessoas, mas otimizam-se os papéis profissionais.

Quando aliadas à IA, a produtividade e a satisfação crescem

Para alavancar essa transição tecnológica nas organizações e empresas, o foco no upskilling e reskilling é essencial. Enquanto o primeiro termo se refere à adaptação para tecnologias emergentes, o segundo abarca a transição completa de cargos. Em ambos os casos, os novos modelos de trabalho catalisados pela evolução da IA devem estar afinados com a constante criação de repertório e o aprendizado contínuo de Large Language Models (LLMs).

O relatório “The AI Equation – 2024 AI Business Impact Research”, da Unysis, revela as três principais maneiras pelas quais as empresas estão medindo a eficácia da tecnologia: eficiência operacional (52%), produtividade dos funcionários (50%) e economia de custos (46%). Nesse contexto, entre os funcionários entrevistados, 71% relatam maior satisfação no trabalho devido à implementação da IA. Além disso, 85% deles – uma fatia ainda maior – acreditam que a IA terá um impacto positivo em sua satisfação no trabalho no futuro.

A palavra-chave aqui é complementaridade, na qual a atividade do agente autônomo evoca o empoderamento intelectual do humano. No topo da lista de vantagens da IA citadas pelos funcionários do relatório, está a mitigação de tasks rotineiras. 84% dos funcionários dizem que a tecnologia os ajuda a simplificar as tarefas do dia a dia, ao passo que 83% dizem que a IA tem um impacto positivo na produtividade cotidiana.

Mini Banner - Assine a MIT Technology Review

Há, ainda, cases que evocam a intersecção entre IA e otimização das atividades profissionais. Em 2023, a empresa de serviços financeiros Morgan Stanley anunciou, em parceria com a OpenAI, o uso do GPT-4 para fortalecer os insights de consultores financeiros da companhia. Em outubro deste ano, a norte-americana Oracle lançou a ferramenta Oracle Analytics for Life Sciences, voltada a soluções de IA no setor de saúde. Alimentada pelo banco de dados Oracle Health Data Intelligence (HDI), a funcionalidade ajuda companhias a perceber necessidades do setor, medindo as possibilidades de investimento e dinamizando estratégias para lançar tratamentos. Além disso, a nova atualização do Claude, assistente de IA da Anthropic, “dissidência” da OpenAI, já demonstrou ser capaz de realizar tarefas repetitivas como criar agendas, elaborar e-mails e navegar pela internet.

No Brasil, os chatbots têm evoluído aproveitando o apreço do brasileiro pela digitalização. O cliente é capaz de mandar uma mensagem de voz ou enviar um texto para o chat, se beneficiando de um modelo cognitivo rápido e eficiente. É possível, ainda, enviar feedbacks sobre o atendimento, auxiliando no refinamento das respostas e gerando dados que vão melhorar as próximas atuações. No contexto do atendimento ao público, como já afirmei em outra publicação, a persona digital Tais, da TIM, possui uma taxa de assertividade de 76%. Quando atrelada à inteligência artificial generativa, o grau de qualidade conversacional mais que dobra.

Mesmo que uma “turbulência” seja natural, o importante é – tanto para o trabalhador quanto para a empresa –, explorar cursos e estimular a participação em programas de treinamento sobre IA generativa, bem como no setor de coleta e análise de dados. Ao governo, cabe o investimento em políticas de requalificação profissional e digital. Com o bom uso da IA, a meta deve ser promover a atuação crítica e criativa dos trabalhadores. Em resumo, o reencontro do humano com o humano.

Por:Auana Mattar
Auana é CIO da TIM Brasil e colunista da MIT Technology Review

Último vídeo

Nossos tópicos