Greenbonds: o mecanismo financeiro que está impulsionando o futuro sustentável das corporações
Negócios e economia

Greenbonds: o mecanismo financeiro que está impulsionando o futuro sustentável das corporações

A empresa do futuro saberá que parte de seu sucesso depende de sua relação com a sociedade e com o meio ambiente.

Mudanças climáticas são, sem dúvida, a maior ameaça à existência em nossa curta história neste planeta. Nosso mundo está possivelmente diante de uma catástrofe climática e, até agora, a reação está longe de ser suficiente. As transformações necessárias aos desafios futuros envolvem não só as mudanças de mindset, do sistema socioeconômico e político, mas também do financeiro. 

Com a ciência contribuindo para apontar cenários de risco caso os modelos tradicionais continuem, a responsabilidade do mercado aumentou drasticamente. A criação e a entrada de novas formas de financiamento, produtos e incentivos socioambientais terão papel fundamental em busca da segurança climática. 

O que são bonds e para o que servem?  

Bonds são títulos de dívida que podem ser emitidos pelo governo, por empresas privadas e públicas, bastante similar a outras modalidades de investimentos populares no Brasil (como Debêntures, CRIs, CRAs). Quando uma empresa ou o governo precisa de dinheiro, eles contam com algumas opções para captar esses valores no mercado. O governo, por exemplo, pode emitir títulos da dívida pública, que são comprados por empresas ou pessoas físicas e essas são remuneradas por meio de juros (yields).  

Esse título é um instrumento de renda fixa que representa um empréstimo feito por um investidor a um mutuário (geralmente corporativo ou governamental). Os títulos são usados por empresas, municípios, estados e governos soberanos para financiar projetos e operações, permitindo que muitos investidores individuais e institucionais assumam o papel dos credores.  

No cenário atual de reconstrução da forma, como lidamos com as pessoas, recursos e processos, os critérios socioambientais têm sido altamente incluídos na seleção de projetos, abrindo um nicho de oportunidades de investimento, como os títulos verdes. 

Os Green Bonds  

Os títulos verdes podem ser classificados como uma subcategoria de títulos de dívida e se diferenciam dos normais por serem rotulados verde. Eles funcionam como qualquer outro título corporativo ou governamental nos quais os mutuários emitem dívida para garantir financiamento para projetos que terão um impacto ambiental positivo. 

Esses produtos são destinados a incentivar a sustentabilidade e apoiar projetos ambientais especiais relacionados ao clima ou outros tipos. Mais especificamente, os títulos verdes financiam projetos voltados à eficiência energética, prevenção da poluição, agricultura sustentável, pesca e silvicultura, proteção de ecossistemas aquáticos e terrestres, transporte limpo, água limpa e gestão sustentável da água. Eles também financiam o cultivo de tecnologias ecologicamente corretas e a mitigação das mudanças climáticas. 

Importante ressaltar que o dinheiro captado via green bond é especificado, e só pode ser destinado para o projeto específico que foi declarado pela empresa ou governo no momento da emissão. Este mecanismo tem se tornado cada vez mais comum para grandes corporações dado que a emissão de dívida já é um instrumento bastante difundido por investidores e empresas. 

Além dos participantes usuais do mercado de capitais brasileiro, o mercado de títulos verdes conta com os agentes de avaliação externa (Second Party Opinion ou SPO), que atestam, por meio de um parecer independente, os atributos ambientais positivos dos projetos para os quais os recursos captados serão destinados. O processo de emissão segue referências do mercado internacional de green bonds, com destaque para a International Capital Market Association (ICMA), responsável pela elaboração dos Green Bond Principles e a Climate Bonds Initiative, responsável por mobilizar capital para ações climáticas. 

Bonds e o ESG 

Esses novos instrumentos financeiros podem e devem servir como propulsores de um novo modelo de gestão de impacto socioambiental, incentivando negócios alinhados com parâmetros ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). 

O entendimento e a aplicabilidade de critérios ESG é, cada vez mais, uma realidade. Atuar de acordo com padrões ESG amplia a competitividade do setor empresarial, seja no mercado interno ou no exterior. Agora acompanhadas mais de perto pelos seus diversos stakeholders, as empresas têm no ESG a possibilidade de indicar mais solidez, uma melhor reputação e maior resiliência em meio às incertezas e vulnerabilidades. 

Nesses mesmos moldes de produto, outras alternativas de investimento a longo prazo e que tem como proposta direcionar recursos para a mitigação de mudanças climáticas e sociais, têm sido disseminadas. 

Transition Bonds  

Os títulos de transição são uma classe relativamente nova de instrumento de dívida usado para financiar a transição de uma empresa para um impacto ambiental reduzido ou emissões de carbono mais baixas. Ou seja, focada na redução direta dos Gases de Efeito Estufa (GEE). Importante principalmente para grandes indústrias emissoras de carbono, como petróleo e gás, ferro e aço, produtos químicos, aviação e transporte marítimo. 

Social-Bonds  

Os Social-Bonds seguem a mesma lógica dos títulos verdes, mas, no caso, os projetos financiados têm que ter benefícios sociais definidos. Quando falamos de fatores sociais estamos nos referindo basicamente ao acesso a infraestrutura básica como: água, esgoto, saneamento, transporte e energia; acesso a serviços essenciais como: saúde, educação e habitação. 

Sustainability-Linked Bonds (SLB)  

Um primo mais novo dos títulos ESG que vem despontando e ganhando tração são os Sustainability-linked Bonds, os SLBs. Esses títulos poderão ter suas características financeiras e estruturais alteradas dependendo do atingimento ou não das metas (KPIs) de sustentabilidade pré-estabelecidas. Neles, diferentemente dos green bonds e social bonds, o dinheiro não é carimbado, o que dá mais liberdade no uso dos recursos. Há de se ressaltar, porém, que o não atingimento dessas metas pode resultar em uma penalidade às empresas financiadas aumentando o yield por elas pago e, consequentemente, o custo de financiamento. O que considero bem razoável, por sinal. 

É interessante pensar que a emissão de dívida tende a se tornar uma grande aliada das grandes empresas. Uma maneira eficiente de envolver diretamente o seu consumidor/investidor em seus projetos, de poder remunerar aqueles que financiam suas obrigações sustentáveis e de terem capital disponível para outros investimentos também necessários no crescimento sustentável da companhia. As movimentações nacionais e internacionais comprovam o crescimento desse produto como uma excelente opção para os padrões atuais de mercado. 

Mercados mundial e nacional de emissão de green bonds 

Até o final de 2021, a Climate Bonds Initiative havia registrado um volume acumulado de US$ 2,8 trilhões desde o início do mercado em 2007. Indicando um crescente volume, o recorde do ano passado foi de US$ 1,1 trilhão e o próximo marco para o financiamento verde está definido para US$ 5 trilhões anuais até 2025. 

No Brasil, em 2021, as emissões de títulos verdes movimentaram R$ 84 bilhões, três vezes mais do que em 2020. E a lista de emissoras inclui gigantes como Suzano, Eletrobras, JBS, O Boticário e Natura, e o país é o maior mercado de green bonds da América Latina.  

Recentemente foi a vez da Arcos Dorados, franquia que opera a marca McDonald’s em 20 países da América Latina e do Caribe, fazer a emissão de seus títulos SLB, propondo reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 36% em sua operação própria, e em 31% em sua cadeia de fornecimento, de maneira progressiva até 2030. Provando o conceito de que empresas de todos os setores caminham para o Net Zero e uma relação social mais impactante. 

A geração de energia e a sua distribuição se tornaram os principais focos mundiais desse tipo de operação. Dentre as emissões realizadas no Brasil, a energia e o uso da terra seguem sendo os setores predominantes do total emitido desde 2015. Segundo estudo da Climate Bonds Initiative (CBI), os títulos verdes respondem por 84% do mercado de dívida sustentável brasileira e, em seguida, estão os títulos sustentáveis com US$ 1,6 bilhão representando 15% do volume total. E, por último, os títulos sociais com US$ 111 milhões equivalente a 1% do mercado. 

Apesar de ainda estarmos distantes do ponto de virada, os números revelam que há cada vez mais recursos sendo canalizados para financiar projetos com benefícios ambientais ou sociais, e para catalisar a agenda ESG de empresas. Os prejuízos da pandemia ao redor do globo levaram ao impulsionamento principalmente dos social bonds — um caminho, eu acredito, irreversível. 

O valor verde para as empresas e corporações do futuro 

A empresa do futuro saberá que parte de seu sucesso depende de sua relação com a sociedade e com o meio ambiente. O efeito cascata que a verdadeira sustentabilidade e fatores sociais podem trazer desde o encantamento do consumidor, até um maior engajamento de seus colaboradores, deverão moldar as tomadas de decisões dos novos gestores.  

Os investimentos vinculados a projetos verdes são sem dúvidas um grande estímulo para o desenvolvimento sustentável, considerando a crescente valorização dos aspectos da sustentabilidade. Eles aumentam a conscientização sobre os desafios das mudanças climáticas, e demonstram o potencial dos investidores institucionais e físicos em apoiar investimentos inteligentes, sem abrir mão de retornos financeiros. Nos resta agora aguardar os próximos capítulos de um mercado tão necessário e promissor. 

Último vídeo

Nossos tópicos