A inteligência artificial (IA) está transformando radicalmente a forma como trabalhamos, aprendemos e interagimos com o mundo. Ferramentas como ChatGPT, Copilot, Gemini, Bard e DeepSeek ampliam a produtividade em diversas áreas, permitindo a automação de tarefas, a criação de conteúdos de alta qualidade e a otimização de processos decisórios. Profissionais de marketing utilizam IA para personalizar campanhas com ferramentas como Adobe Sensei e Phrasee; desenvolvedores aceleram a programação com código gerado automaticamente por GitHub Copilot e Tabnine; e executivos obtêm insights avançados com plataformas como Tableau AI e IBM Watson Analytics para embasar suas estratégias.
Um relatório recente da McKinsey revelou que a adoção da IA generativa cresce rapidamente nas empresas. Em menos de um ano desde o lançamento de muitas dessas ferramentas, um terço das organizações já as utilizam regularmente em pelo menos uma função de negócios. Esse fenômeno indica uma transformação acelerada no ambiente corporativo, impactando diretamente a produtividade, a tomada de decisões e a inovação tecnológica (McKinsey, 2023).
A pesquisa Anthropic Economic Index fornece uma análise detalhada sobre o uso das ferramentas de IA no mercado de trabalho. O estudo, baseado em milhões de interações com o assistente Claude, revelou que a IA é amplamente utilizada para tarefas de desenvolvimento de software e redação técnica, representando quase metade das interações analisadas. Cerca de 36% das ocupações usam IA em pelo menos um quarto de suas tarefas. Além disso, 57% do uso da IA é voltado para aprimorar as capacidades humanas, enquanto 43% objetiva a automação total de tarefas, demonstrando que a IA colabora com o trabalho humano em vez de substituí-lo completamente.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que cerca de 40% dos empregos globais poderão ser impactados pela IA, especialmente em países desenvolvidos, onde aproximadamente 60% das ocupações estão suscetíveis às transformações dessa tecnologia. Embora muitas dessas funções possam se beneficiar do suporte da IA para aumentar a produtividade, outras correm o risco de serem substituídas ou significativamente modificadas.
Um estudo avaliou o impacto do GitHub Copilot no desenvolvimento de software e constatou que desenvolvedores aceitaram cerca de 30% das sugestões de código fornecidas pela ferramenta, resultando em um aumento significativo da produtividade. Além disso, a adoção da IA generativa pode agregar até US$ 1,5 trilhão ao PIB global até 2030, reforçando seu potencial de transformar setores que dependem da automação de tarefas complexas.
Pesquisas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) também demonstram que a IA impulsiona a produtividade de trabalhadores do conhecimento. Profissionais que utilizam ChatGPT relataram ganhos significativos de eficiência e maior predisposição a incorporar a ferramenta em suas atividades futuras. Contudo, esse impacto não se distribui de maneira uniforme: enquanto trabalhadores menos qualificados experimentam algumas melhorias, os mais qualificados obtêm vantagens ainda mais expressivas, ampliando as desigualdades no mercado de trabalho.
A capacidade de usufruir plenamente dos avanços proporcionados pela IA depende de competências cognitivas essenciais, como raciocínio lógico e interpretação de textos. Isso significa que, enquanto alguns setores da sociedade colhem os benefícios da revolução digital, outros podem ser deixados para trás. À medida que a IA se torna indispensável no ambiente corporativo, acadêmico e social, cresce o risco de marginalização digital de indivíduos que não possuem as habilidades necessárias para interagir com essas tecnologias.
O Déficit Educacional no Brasil
A IA generativa já faz parte da rotina de 32% dos profissionais brasileiros, um índice superior à média global de 28%. Além disso, 80% dos usuários relatam que essa tecnologia aumentou sua produtividade, superando a média mundial de 71% (DeepLegal, 2024). Paralelamente, 74% das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) no Brasil já utilizam IA para otimizar processos, aprimorar a experiência do cliente e garantir maior eficiência. Ferramentas como Chatbot GPT, IBM Watson Assistant e Google Dialogflow são amplamente empregadas no atendimento ao consumidor, enquanto soluções como Microsoft Copilot, Notion AI e Jasper AI impulsionam a produtividade.
A relação entre nível educacional e empregabilidade no Brasil é clara. Estudos indicam que uma formação educacional mais sólida aumenta a inserção no mercado de trabalho, refletindo-se em salários mais elevados e maior estabilidade profissional (FGV, 2024). No entanto, a escolaridade média em regiões mais pobres do Brasil é cerca de três anos inferior à das regiões mais ricas, perpetuando a desigualdade de renda.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destaca que profissões que exigem maior qualificação são as mais suscetíveis à integração da IA. Isso pode aprofundar as disparidades sociais, pois aqueles com melhor formação aproveitam mais os avanços tecnológicos, enquanto os menos escolarizados enfrentam desafios crescentes para permanecerem competitivos.
O desenvolvimento cognitivo é um fator central nesse contexto. Estudos mostram que a leitura amplia o vocabulário, melhora a atenção e estimula o pensamento crítico, enquanto a resolução de problemas matemáticos fortalece o raciocínio lógico (Freire et al., 2021). No entanto, a 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” revelou que 53% da população brasileira não leu um livro nos últimos três meses, e a média anual de livros lidos caiu de 4,95 em 2019 para 3,96 em 2024 (CBL, 2024). Da mesma forma, 3 em cada 10 brasileiros enfrentam dificuldades em realizar operações matemáticas básicas, o que compromete sua autonomia e capacidade de tomada de decisões.
Conclusão
A IA está redefinindo o mercado de trabalho, mas seus benefícios não são igualmente distribuídos. Enquanto profissionais qualificados maximizam sua produtividade e ampliam suas oportunidades, aqueles com menor nível educacional enfrentam o risco de exclusão digital.
Para mitigar esse cenário, é essencial investir na capacitação digital e na alfabetização tecnológica. Programas como AI Skills Sprint (Estados Unidos), Citeforma (Portugal) e Fundación Santa María la Real (Espanha) já demonstraram sucesso na requalificação de trabalhadores para a era digital. No Brasil, iniciativas como Ela Pode: Inteligência Artificial possuem potencial, mas ainda são insuficientes para enfrentar o desafio em larga escala.
Sem investimentos sólidos em educação e no desenvolvimento cognitivo, o país corre o risco de formar uma geração de excluídos digitais, incapazes de interagir com a IA e aproveitar suas oportunidades. O momento de agir é agora, para evitar um abismo social irreversível em um mundo cada vez mais orientado pela tecnologia.