Finalmente o mundo está gastando mais em energia solar do que na produção de petróleo
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Finalmente o mundo está gastando mais em energia solar do que na produção de petróleo

A Agência Internacional de Energia (AIE) ​lançou em maio seu relatório anual de investimentos. Confira para onde está indo o dinheiro.

Dinheiro move o mundo. E quando se trata de energia, essa expressão se relaciona com o número de investimentos feitos na área, que aumenta exponencialmente: empresas, instituições de pesquisa e governos destinam cada vez mais recursos financeiros para tecnologias com o potencial de abastecer e energizar nosso mundo no futuro.  

A Agência Internacional de Energia (AIE) lançou em maio seu relatório anual sobre investimentos globais no setor de energia, onde analisa e contabiliza todo esse dinheiro. Em 2022, o mundo registrou aproximadamente US$ 2,8 trilhões em investimentos voltados para energia, sendo que cerca de US$ 1,7 trilhão desse total foi direcionado para energia limpa. 

Isso representa a maior quantidade de investimentos em energias sustentáveis já registrada em um único ano, e o destino desse dinheiro é bastante interessante. Reuni algumas notícias boas, outras ruins e alguns boatos surpreendentes para compartilhar. Portanto, prepare a sua pipoca e vamos analisar os dados. 

Os combustíveis fósseis estão ficando para trás 

Vamos começar com o que considero uma boa notícia: há muito dinheiro sendo investido em energia limpa (incluindo as de fontes renováveis e nuclear) e em tecnologias que ajudam a reduzir as emissões de gases poluentes, como Veículos Elétricos (VEs) e bombas de calor. E não é apenas uma quantia considerável de dinheiro, mas também ultrapassa o montante direcionado aos combustíveis fósseis. Em 2022, para cada dólar gasto em combustíveis fósseis, US$ 1,70 foram voltados para energia limpa. Apenas cinco anos atrás, o investimento para essas duas categorias de energia era igualitário. 

O crescente domínio da energia limpa é especialmente notável quando se trata de energia solar. Para 2023, espera-se que os investimentos para essa categoria ultrapassem, pela primeira vez, os voltados para a produção de petróleo. É uma diferença expressiva em relação ao cenário de uma década atrás, quando os gastos com petróleo eram quase seis vezes maiores do que os em energia solar. 

Produção de petróleo e investimento solar 

E já que estamos falando de petróleo e gás, acho que vale a pena ressaltar um ponto muito interessante: embora haja um fluxo considerável de recursos financeiros sendo direcionados para energias limpas, isso não representa uma parte significativa dos gastos das empresas de combustíveis fósseis. 

Distribuição dos investimentos feitos pela indústria de petróleo e gás 

Fonte: Agência Internacional de Energia • Gráfico feito por Casey Crownhart, MIT Technology Review americana 

*Um gráfico da Flourish 

As manchas mais escuras nos anos de 2021 e 2022 representam a parcela desses gastos, ou seja, os gastos das empresas de petróleo e gás que foram destinados para a energia limpa. Os investimentos em infraestrutura de petróleo diminuíram (o que possibilitou o crescimento da energia solar), mas as empresas estão compensando isso por meio da distribuição de dividendos, recompra de ações e quitação de dívidas, em vez de aumentar os investimentos em tecnologias de baixas emissões.  

Qualquer investimento e atenção destinados às energias renováveis e inovações que possam ajudar a reduzir as emissões é ótimo, e acho que as empresas de petróleo e gás podem desempenhar um papel importante no impulsionamento da criação de novas tecnologias, especialmente aquelas em que já possuem experiência (estou falando de você, geotérmica!). Mas acho importante analisar os gastos dessas empresas levando em conta a realidade como ela é. O que eu quero dizer com isso é que as empresas de petróleo e gás estão investindo menos em energias renováveis do que as campanhas publicitárias podem levar a crer. 

Preparados para os desafios 

Dentro do setor de energia limpa, a grande maioria dos gastos é destinada para as energias renováveis, como eólica e solar, melhorias em redes elétricas e iniciativas para aperfeiçoar a eficiência energética. 

Mas os setores menores estão crescendo em ritmo acelerado, especialmente quando você olha as projeções para este ano. Estou muito empolgada ao ver a velocidade com a qual os recursos financeiros estão sendo direcionados para os VEs: de US$ 29 bilhões em 2020, os investimentos esperados para 2023 são de US$ 129 bilhões. Além disso, os gastos com baterias para armazenamento de energia devem dobrar entre 2022 e 2023. 

Investimento anual em energia limpa 

Fonte: Agência Internacional de Energia • Gráfico feito por Casey Crownhart, MIT Technology Review americana 

*Um gráfico da Flourish 

Todo esse influxo de recursos financeiros pode mudar tudo, e já há grandes transformações na indústria de baterias devido a isso. Parece que não conseguimos passar mais do que alguns dias sem o anúncio de uma nova fábrica de baterias (como o caso de outra construção multibilionária na Geórgia, nos Estados Unidos). 

Se todos esses planos de expansão e investimentos se concretizarem, chegaremos a uma capacidade de fabricação de baterias de íons de lítio de quase sete terawatts-horas até 2030. Isso seria o suficiente para energizar mais de 100 milhões de VEs anualmente. A maior parte desta produção estará concentrada na China, mas os EUA e a Europa estão começando a desafiar a dominância chinesa em tudo relacionado a VEs. 

Capacidade de fabricação de baterias de íons de lítio 

Fonte: Agência Internacional de Energia • Gráfico feito por Casey Crownhart, MIT Technology Review americana 

*Um gráfico da Flourish 

A estrada à frente 

Então, tudo isso parece envolver muito dinheiro…, mas será o suficiente? 

Para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais e evitar os piores impactos decorrentes das mudanças climáticas, precisamos atingir emissões líquidas zero por volta de 2050. Se quisermos atingir essa meta, segundo a AIE, o investimento anual precisa chegar a US$ 4,5 trilhões em 2030, quase o triplo dos gastos atuais. 

Investimento histórico vs necessário em energia 

Fonte: Agência Internacional de Energia • Gráfico feito por Casey Crownhart, MIT Technology Review americana 

*Um gráfico da Flourish 

Algumas tecnologias estão realmente em uma situação promissora. Os gastos solares só precisam continuar crescendo na mesma proporção para que o setor acompanhe a meta de 2050. Mas é preciso haver muito mais investimento em outras áreas, especialmente no desenvolvimento de tecnologias como armazenamento de energia e linhas de transmissão que ajudarão a equilibrar a rede elétrica à medida que mais fontes de energia solar e outras fontes renováveis intermitentes entrarem em operação. Há também um enorme desequilíbrio geográfico e os países mais pobres precisarão de um impulso significativo para conseguirem construir suas redes elétricas e implementar novas tecnologias. 

Os investimentos estão no caminho certo e estou ansiosa para ver o que o relatório do próximo ano trará. Mas definitivamente ainda há um longo caminho pela frente e muito trabalho a se fazer. 

Acompanhando o clima 

Os fogões de indução podem substituir o fogão a gás poluente. Eles podem parecer mágicos, mas esses aparelhos futuristas são energizados por ímãs. (Canary Media) 

Este é um guia completo e muito bom sobre a “reforma de licenciamento”, uma luta política crucial no setor de energia com possivelmente o nome mais tedioso possível. (Heatmap News) 

Cooktops elétricos, bombas de calor e carregadores de VEs podem ajudar a economizar dinheiro e reduzir as emissões de gases nas residências. Mas quando o locatário do imóvel tem a palavra final sobre essas mudanças, o progresso nem sempre é tão simples. (Washington Post) 

Vamos precisar de muito mais carregadores de VEs. (MIT Technology Review americana) 

A China já era o maior exportador de VEs do mundo e agora passa a aumentar essa exportação ainda mais. (Wall Street Journal) 

O primeiro novo reator nuclear em Plant Vogtle, na Geórgia (EUA), finalmente atingiu sua capacidade total de produção no final de maio, apenas sete anos atrasado e US$ 17 bilhões acima do orçamento. (Associated Press) 

Reatores nucleares menores têm sido apontados como uma possível solução para atrasos na implementação de soluções alternativas e para a inflação de custos. Então, onde eles estão? (MIT Technology Review americana) 

Preparando-se para mexer nas suas plantas? Aqui está um guia com todas as ferramentas elétricas de jardinagem que você poderia desejar. (The Strategist) 

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