Em janeiro, a MIT Technology Review revelou a escolha das 10 tecnologias mais inovadoras de 2024. Esses são os avanços tecnológicos que acreditamos que mudarão nossas vidas hoje ou em algum momento no futuro. Entre eles, há um que interessa especificamente ao setor de tecnologia chinês: os chiplets.
Foi sobre isso que escrevi em um novo artigo. Chiplets — a nova abordagem de fabricação que divide os chips em módulos independentes para reduzir os custos de projeto e melhorar o desempenho da computação — podem ajudar a China a desenvolver chips mais potentes, apesar das sanções do governo dos EUA que impedem as empresas chinesas de importarem determinadas tecnologias importantes.
Fora da China, os chiplets são uma das rotas alternativas que o setor de semicondutores poderia adotar para melhorar o desempenho dos chips de forma econômica. Em vez de tentar incessantemente amontoar mais transistores em um chip, a abordagem de chiplets propõe que as funções de um chip possam ser separadas em vários dispositivos menores, e cada componente poderia ser mais fácil de fabricar do que um chip potente de peça única. Empresas como a Apple e a Intel já fabricaram produtos comerciais dessa forma.
Porém, na China, a tecnologia assume um nível diferente de importância. As sanções dos EUA significam que as empresas chinesas não podem comprar os chips mais avançados ou os equipamentos para fabricá-los, portanto, elas precisam descobrir como maximizar as tecnologias que possuem. E os chiplets são úteis nesse caso: se as empresas puderem fabricar cada chiplet no nível mais avançado de que são capazes e montá-los em um sistema, ele poderá atuar como um substituto para chips de ponta mais potentes.
A tecnologia necessária para fabricar chiplets não é tão nova assim. A Huawei, gigante chinesa da tecnologia que tem uma subsidiária de design de chips chamada HiSilicon, fez experimentos com seu primeiro produto de design de chiplets em 2014. Mas a tecnologia se tornou mais importante para a empresa depois que ela foi submetida a sanções rigorosas dos EUA em 2019 e não pôde mais trabalhar com fábricas estrangeiras. Em 2022, o então presidente da Huawei, Guo Ping, disse que a empresa esperava conectar e empilhar módulos de chip menos avançados para manter os produtos competitivos no mercado.
Atualmente, há muito dinheiro sendo investido no setor do chiplet. O governo e os investidores chineses reconheceram a importância e estão investindo em projetos acadêmicos e startups.
Em especial, há uma cidade chinesa que apostou tudo nos chiplets e é muito provável que você nunca tenha ouvido falar no nome dela: Wuxi.
A meio caminho entre Xangai e Nanjing, Wuxi é uma cidade de médio porte com um forte setor de manufatura. E ela tem uma longa história no setor de semicondutores: o governo chinês construiu uma fábrica estatal de wafer na década de 60. E quando decidiu investir no setor de semicondutores em 1989, 75% do orçamento do estado foi para a fábrica em Wuxi.
Em 2022, Wuxi tinha mais de 600 empresas de chips e estava atrás apenas de Xangai e Pequim em termos de competitividade do setor de semicondutores. Em especial, a região é o centro do empacotamento de chips — as etapas finais do processo de montagem, como a integração da peça de silício com sua caixa de plástico e o teste de desempenho do chip. A JCET, a terceira maior empresa de embalagem de chips do mundo e a maior do gênero na China, foi fundada em Wuxi há mais de cinco décadas.
Sua proeminência no setor de embalagens dá à JCET e à Wuxi uma vantagem em chiplets. Em comparação com os chips tradicionais, os chiplets acomodam melhor os recursos de fabricação menos avançados, mas exigem técnicas de empacotamento mais sofisticadas para garantir que diferentes módulos possam trabalhar juntos sem problemas. Portanto, a força estabelecida de Wuxi em empacotamento significa que ela pode estar um passo à frente de outras cidades no desenvolvimento de chiplets.
Em 2023, Wuxi anunciou seu plano de se tornar o “Chiplet Valley”. A cidade se comprometeu a gastar US$ 14 milhões para subsidiar as empresas que desenvolvem chiplets na região e formou o Wuxi Institute of Interconnect Technology para concentrar os esforços de pesquisa em chiplets.
Wuxi é um ótimo exemplo do papel oculto da China no setor global de semicondutores: em relação a setores como design e fabricação de chips, o empacotamento exige muita mão de obra e não é tão desejável. É por isso que basicamente não há mais capacidade de empacotamento nos países ocidentais e que lugares como Wuxi geralmente passam despercebidos por todos.
Mas com a oportunidade apresentada pelos chiplets, bem como outros avanços nas técnicas de empacotamento, há uma chance de o empacotamento de chips voltar ao centro do palco. E a China está apostando muito nessa possibilidade neste momento para alavancar um de seus poucos pontos fortes nacionais e sair na frente no setor de semicondutores.