O que foi destaque no EmTech Energy e no Energy Summit 2024 
EnergyPodcast

O que foi destaque no EmTech Energy e no Energy Summit 2024 

Confira os insights do evento global que discutiu os próximos passos da transição energética no Rio de Janeiro.  

Na última semana, o Rio de Janeiro foi palco para o Energy Summit, o encontro global para fortalecer o setor energético na busca de soluções inovadoras.

Com mais de 10 mil pessoas presentes, 100 palestrantes e 70 horas de conteúdo, o evento foi um ponto de conexão e discussão para os próximos passos da transição energética. Além de uma agenda especial para CIOs, foram realizadas palestras e masterclasses com grandes nomes da indústria e professores do MIT.

No podcast da MIT Technology Review desta semana, André Miceli, Carlos Aros e Rafael Coimbra destacam suas percepções sobre o evento.

Este podcast é um oferecimento do SAS.

[ANDRÉ MICELI]
Olá, sou André Miceli e esse é mais um podcast da MIT Technology Review Brasil. Hoje eu, o Rafael Coimbra e Carlos Aros vamos falar sobre EmTech e Energy Summit.

Aconteceu no Rio de Janeiro o maior evento do mundo em colaboração com o MIT Technology Review Brasil. No primeiro dia, o EmTech Energy, a agenda de energia para CIO de todos os segmentos, e nos outros dois dias, o Energy Summit. Tiveram aulas, palcos, eventos paralelos, enfim, uma série de iniciativas para debater a transição energética. E para terminar, de sobremesa, ainda teve uma continuação só para convidados em um evento…o Energy Summit, em Maricá.

Antes da gente começar, eu quero dizer que esse podcast é um oferecimento do SAS, líder em analytics, e também te convidar para entrar para nossa comunidade lá em www.mittechreview.com.br/assine.

Rafa Coimbra, os CIOs e CTOS vão precisar ajudar as suas organizações no processo de redução de emissão de carbono. Na medida em que esse grid tecnológico, cada vez mais complexo e descentralizado for crescendo, é necessário falar sobre o papel desses executivos, do que vem pela frente. Essa é uma frase resumo do EmTech Energy. Quero te perguntar: o que você extraiu? Se apertar essa história toda, sai o que?

[RAFAEL COIMBRA]

André, que o papel dos CIOs está crescendo absurdamente, não só dentro da corporação. Essas pessoas têm cada vez mais o poder, potencial. Estou falando potencial porque muitas vezes, os CIOs não são vistos com a importância que eles têm, mas já há uma compreensão que existe esse movimento. Eles têm que saber arquitetar partes da sua corporação, ter uma visão grande de negócios, de como funciona o todo e não apenas a parte de tecnologia. E esse crescimento de poder, ele também se dá em relação ao mundo externo. Quando a gente fala hoje de tecnologias, a gente tem que imaginar que uma grande parte, provavelmente a maior parte, estou falando de uma maneira geral, das tecnologias usadas dentro de qualquer empresa hoje, elas são de outras empresas. Passam por Big Techs, passam por empresas de médio porte. É um conjunto de soluções que CIOs precisam fazer uma montagem ali de lego, de quebra-cabeça, para que a sua empresa consiga prosperar. Por isso, ficou muito claro esse poder, esse papel protagonista.

Ao mesmo tempo, André, é muito visível que tecnologias por si só não fazem milagres. A gente falou muito em tecnologia, especialmente no EmTech, que é a conferência de tecnologias emergentes do MIT, que foi feita pela primeira vez no mundo, aqui no Brasil, uma só sobre energia. A gente já tinha visto sobre outros temas, como inteligência artificial recentemente, mas energia foi a primeira vez, aqui no Brasil. E aí, fica muito claro isso. Olha, você tem que usar a tecnologia, mas você não consegue plugar uma tecnologia, seja qual for essa tecnologia, e de repente tudo vai mudar. Não vai.

Nós vimos e ouvimos dos professores do MIT que vieram ao Brasil, como as cadeias estão mais complexas, como a interligação dessas peças todas que eu estou citando aqui, elas estão entranhadas. Como envolve o comportamento de consumidores, como envolve muitas vezes iniciativas governamentais, como isso tudo precisa de tempo e dinheiro. É meio assustador. A sensação que eu tive, André, ali ouvindo é: caramba, que problemão que a gente tem aí pela frente, para o futuro.

Ao mesmo tempo, dá para fazer. É uma questão só da gente ter essa consciência, da gente entender que é um jogo em que todos nós devemos e deveremos fazer parte. E que CIOs estão ali num papel de quase que coordenadores, ao lado muitas vezes dos CEOs, ou de uma maneira um pouco mais à frente, dependendo se a empresa é muito digitalizada, é muito tecnológica, Mas a gente tem que ficar de olho nas tecnologias, nos CIOs, mas mais do que isso, como eles estão coordenando esses processos. É isso que eu acho que vai garantir uma transição energética mais sustentável.

[ANDRE MICELI]

Carlos Aros, o Energy Summit contou com a participação de dois governadores, o do Rio de Janeiro e o do Paraná. A ex-governadora de Santa Catarina, vários outros políticos, senador Sérgio Moro, vários deputados, secretários de estado, ex-deputados, enfim. Não foi um evento só para academia, não foi um evento só para startup, não foi um evento só para as empresas. Por que tanto interesse político?

[CARLOS AROS]

Bom, primeiro porque existe aquela visão que não é injustificada, de que boa parte da morosidade para que nós consigamos alcançar alguns objetivos que têm sido estabelecido aqui no Brasil, que tem sido estabelecidos globalmente. E nem falo sobre as metas, sobre equiparar as metas não, mas caminhar na mesma direção, andar efetivamente nessa mesma direção. Boa parte da morosidade se deve a um bate-cabeça governamental, a uma falta de alinhamento das três esferas da administração, no âmbito do executivo. Um desinteresse muitas vezes do legislativo por pautas mais específicas e mais técnicas. Então, isso faz com que o descolamento do poder público desse debate leve a essa percepção.

E aí, quando a gente tem um movimento desses governadores, a gente entende por que é que os dois estados citados – outros também tem os seus bons motivos para celebrar — mas esses dois, especificamente, acabam se alinhando a temas que foram exaustivamente debatidos durante o Energy Summit.

No caso do Rio de Janeiro, o governador fez lá a assinatura de um termo de compromisso, vários secretários de Estado mostrando desde a visão que se tem sobre a digitalização da gestão pública e dos serviços da população, até o estabelecimento de políticas públicas que privilegiem a transição energética.
No caso do Paraná, o objetivo é a construção de um celeiro de talentos para atender a pesquisa, atender as áreas ligadas a tecnologia, para que essa mão-de-obra seja utilizada, não só pelo estado, mas pelo país inteiro, dentro desse universo.

Em paralelo a isso, o governador quer também fazer com que o estado do Paraná seja referência em biogás. Algo que o Rio de Janeiro já é, de alguma maneira, e que vem ganhando e consolidando esse espaço. Ou seja, são duas visões de gestão pública orientadas a eliminar a fricção e eliminar as etapas para fazer com que essa aproximação aconteça.

A gente viu ali a academia, a gente viu as autoridades do poder público, a gente viu as empresas, a gente viu as startups, a gente viu investidores. Fazer com que todos esses agentes se conectem de maneira mais célere, é garantia de resultado lá na frente, e o governo não pode ficar para trás. Então, a presença deles, desses dois governadores, mostra que são dois estados que, dentro da gestão atual, se preocupam muito com essa proximidade e com essa interlocução, para garantir que os resultados de fato aconteçam.

No caso dos senadores, de deputados e dessas figuras do legislativo, o que chama atenção é o interesse na compreensão dos meandros mais técnicos dos projetos. Esse me parece ser o grande desafio quando a gente fala da jornada que os projetos de lei atravessam no legislativo. É justamente o quanto a complexidade técnica se torna um problema, em vez de uma solução. E aí ter parlamentares interessados em entender meandros técnicos também facilita muito esse processo.

Acho que o Energy Summit deu uma aula, André, sobre como fazer essa aproximação acontecer de maneira efetiva, com conversas que, de fato, levem resultado e gerem negócios. Acho que isso é o mais importante. O poder público, de todos os setores que eu citei, é aquele que tem a imagem mais negativa e, portanto, que precisa aparecer mais para mostrar que ele é sim um indutor desse processo e não uma pedra no meio do caminho.


[ANDRE MICELI]

Rafa, teve uma característica diferente aqui no Energy Summit, especialmente depois desse modelo Ted Talks que ficou tão famoso, que foi a profundidade dos temas.

O evento trouxe palestras um pouco mais longas. De 45 minutos, até algumas de meia hora, mas algumas de uma hora. Enfim, professores do MIT, discussões mais amplas. Muitos presidentes de empresa, vice-presidentes. O C-level fez parte do lineup de uma maneira muito contundente. Também aconteceram muitas masterclass. Então, o público, a audiência, ela teve a oportunidade de participar de aulas de uma hora, em salas, num um ambiente mais reduzido, não eram só as palestras, os grandes stages. e ali existiram simulações, interações, grupos, exercícios, algumas questões um pouco mais profundas. Claro que você não esgota esse tema, que é extremamente complexo em masterclass de 1 hora ou sessões de 45 minutos, mas foi um evento com mais profundidade do que a gente tem se acostumado a ver ultimamente. Como você compara essas duas filosofias de conteúdo?

[RAFAEL COIMBRA]

Eu acho, André, que existe espaço para esse tipo de evento mais – eu vou chamar de expositor -. A gente está acostumado a muitos eventos, os grandes eventos hoje do mundo têm esse caráter em que vem alguém ali e fala, como você falou, 20 minutos e passa para a próxima. Tem um efeito meio FOMO, né? Fear of Missing Out, todo mundo querendo estar ali naquele momento. Mas ok, isso atende a uma parte do que a gente precisa. Mas existe um outro momento, e eu acho que é isso que o Energy Summit e o EmTech trouxeram, que é o momento da reflexão primeiro. Para, respira fundo, vamos refletir. E você realmente não consegue fazer isso em 10, 15, 20 minutos. Às vezes você precisa de um pouco mais, às vezes você precisa de alguém, como a gente fez, que está ali no papel de moderador e provocador, que vai fazer perguntas que vão gerar um incômodo do bem. Vamos fazer aquela pessoa que está acostumada a fazer a mesma apresentação várias vezes em PowerPoint de 15 minutos, você fala assim: “senta aqui, vamos conversar. O que que você acha disso, o que que você acha daquilo? Como é que você vê essa questão? Essas provocações, eu vou chamar assim, elas fazem com que esses decisores (e quem estava no palco ali eram só decisores) repensem seus próprios negócios e mais: quando elas saem de uma discussão e vão para outra, e a gente teve muito dessa interdisciplinaridade, muita gente de vários setores e posições, a gente faz com que: “Pô, será que eu estou vendo alguém aqui falando de um combustível, como eu ouvi lá uma palestra, por exemplo, sobre combustível sustentável para aviação. Será que eu posso usar esse mesmo combustível para o carro? Será que essa tecnologia que eu posso aplicar para misturar isso aqui com energia eólica.” Essa confluência de tecnologias, de temas, de posições.

Eu acho que você vê também o que a pessoa do teu lado, pode ser às vezes até um competidor ou alguém que complementa o teu setor. O que que essas pessoas estão fazendo? Isso tudo traz um tipo de inteligência estratégica que você às vezes não consegue em outros tipos de evento. E na masterclass, como você falou, André, é um contato muito próximo que você tem com pessoas, e aí eu acho que foi muito interessante essa parte acadêmica, isso não é muito comum. Existem eventos acadêmicos que quando a gente vai são muito densos, muito pesados, às vezes, ou você vai para esses outros que são um pouco mais superficiais, são mais de mercado. Eu acho que esse equilíbrio entre o que o mercado está fazendo, mas o que a academia está olhando, e nisso o MIT é muito bom, porque o MIT tem uma pegada de estudos muito profundos, mas muito aplicados ao negócio.

Essa fórmula é muito interessante porque traz o embasamento. Você não começa a tomar decisões ou a discutir essas grandes questões com base em achismos. Você fala, olha, espera aí, tem um estudo aqui, foram analisadas x empresas, esse mercado a gente olhou dessa forma. Eu vi gráficos ali muito facilmente entendíveis de professores do MIT, sensacionais. Eu olhava assim, caramba. Eu nunca tinha parado para pensar sobre isso, esse momento. Eu nunca tinha olhado por esse ou por esse prisma. É algo que realmente mexe com a cabeça e você sai de uma palestra como essa e vai depois tomar um café com alguém, vai sentar e vai almoçar, trocar uma ideia. Isso realmente é algo que a gente precisa mais, esse respiro profundo e essa troca de ideias entre pessoas que estão ali com um poder de decisão para transformar o mundo.

[ANDRE MICELI]
Carlos Aros, foram mais de 10 mil participantes, diversas empresas diferentes, quase 100 parceiros e patrocinadores, mais de 100 sessões, 150 horas de conteúdo, 200 speakers de diversos países. E agora, o que vai fazer o Energy Summit não ser só mais um summit?

[CARLOS AROS]

É a gente acompanhar a efetividade desses encontros que aconteceram, né? Acho que a gente já falou um pouco disso aqui, mas é importante ressaltar a qualidade das conversas, e nem me refiro só àquilo que estava na programação oficial, André. Você circulou em todos os cantos do evento, uma figura onipresente em todos os cantos do evento, e você, assim como eu, assim como o Rafa, seguramente se deparou em diversos momentos em rodinhas em que, sabidamente, aquele encontro só estava acontecendo da maneira que estava, porque aquelas pessoas todas estavam ali no Energy Summit. Ou seja, agendas concorridas, pessoas de localizações muito distantes, às vezes outros interesses e prioridades no dia-a-dia também, mas que ali encontraram um ponto de convergência.

Eu ouvi de várias pessoas com as quais eu conversei: “poxa, o nível do networking aqui está impressionante”. E todo mundo ali com proposições e com pontos em comum. O que vai fazer o Energy Summit não ser só mais um summit, e ele já nasceu não sendo só mais um summit. acho que é importante a gente dizer isso, é a efetividade e o passo dois dessas conversas, desses encontros que aconteceram por ali.

Então, nós temos projetos em andamento, projetos que, seguramente, vão ganhar corpo a partir dos diálogos, dos encontros que foram promovidos ali. Mas ele se coloca como uma parada obrigatória no ano, para que todo mundo quer discutir, que quer fazer aquela peneira para entender exatamente por onde caminhar, e se a jornada está alinhada com aquilo que o resto do mundo espera, precisa frequentar.

Acho que a gente conseguiu encontrar boas discussões. Algumas delas, poderiam se arrastar. Pelo menos eu mediei painéis que tinham conteúdo, pelas pessoas que estavam ali sentadas comigo, e que eu mediava na conversa, que poderiam se arrastar por muito mais do que o tempo que nós tínhamos oficialmente na grade.

Então, densidade não falta. Interesse das pessoas não faltam. E aí, óbvio, o Energy Summit se coloca como uma parada obrigatória para a gente refletir sobre a transição energética, sobre o papel da inovação e sobre o encontro desses elementos que compõem os ecossistemas de inovação, que é o que nós aqui na MIT Technology Review (Brasil) gostamos de ver. Discussões que nós gostamos de fomentar e de induzir por aqui.

[ANDRE MICELI]
É isso. Ainda tem o relatório do Energy Summit para sair, em parceria com a Deloitte, que vai ajudar essas cinco pontas, governo, academia, grandes empresas, startups e investidores, a tomar decisões melhores a respeito do tema, né?

Energy Summit Global não por acaso tem as suas primeiras letras ESG. É um evento que fala muito sobre sustentabilidade e cada vez mais esse tema vai entrar na nossa pauta, no próprio evento. A gente precisa falar de transição energética, sim, mas precisa discutir de uma forma pragmática como fazemos normalmente.

Como as empresas vão lidar com esse processo, como essas cinco pontas vão tratar esse tema, na verdade? A gente precisa olhar para governança, precisa olhar para as questões sociais e, claro, precisa olhar para o meio ambiente porque, se não, nada faz sentido. Esse modelo de discussão cada vez mais aprofundada, com o EmTech e o Energy Summit Global na sequência, vai continuar em 2025 e, naturalmente, a gente continua por aqui dando suporte a essa jornada.

Ainda nasceu o Energy Club, uma iniciativa que vai ajudar a fomentar esses relacionamentos, esse networking de alto nível que o Aros mencionou. A gente está muito animado com um impacto que dá para gerar a partir de agora.

Por enquanto, eu fecho esse capítulo no nosso podcast de hoje e abro outro perguntando para o Rafa Coimbra no que ele vai ficar de olho essa semana?

[INTRO DO QUADRO]

[RAFAEL COIMBRA]

André, estou de olho numa sacudida que a Apple levou, acabou de levar nessa segunda-feira, da União Europeia. Ela é agora, oficialmente, a primeira empresa a ser acusada de ferir as regras do DMA, que é a lei de mercados digitais da União Europeia. Para lembrar um pouquinho, é uma lei que já tinha sido aprovada, as empresas tiveram tempo para se adaptar e em março agora, de 2024, elas tinham que estar adequadas a essa nova regra. E são regras duríssimas. Para vocês terem uma ideia, se a Apple for mesmo multada, considerada culpada – ela tem até 2025 para se defender, está só começando o processo – mas para vocês terem uma ideia, a multa pode chegar a 10% da receita global anual da empresa.

Isso traduzido em números são 38 bilhões, com b de bola, de dólares. É a multa que a Apple pode pegar se for considerada, ao final desse processo, culpada. Então, o que a União Europeia ela está dizendo? Que a Apple está infringindo determinadas regras de competição. Por exemplo, a gente sabe que a Apple, tanto como o Google, tem aquela lojinha de aplicativos e a Apple sempre cobrou uma taxa. Qualquer um pode ir lá, colocar seu joguinho, seu aplicativo, seja lá do que for, desde que, se vender, pague uma comissão ali de 15%, 20% para Apple. Muitas empresas já reclamavam disso, e a União Europeia falou: olha, você pode continuar cobrando sua taxa na sua lojinha, mas você tem que abrir para fora. Qualquer desenvolvedor tem que ser capaz de vender aplicativos que rodem nos dispositivos Apple, sem passar pela loja da Apple. E pelo que eu estou entendendo aqui dessa acusação, a Apple, está permitindo, mas ela não está fomentando essa liberdade concorrencial. É o que eu entendi aqui da acusação da União Europeia.

Então, temos seis grandes empresas que foram consideradas as guardiãs, foram enquadradas nessas novas regras, que é a Alphabet, a dona do Google, Amazon, Apple, a ByteDance, que é a dona do TikTok, a Meta e a Microsoft, quase todas norte Americanas, à exceção da ByteDance. Então, a gente tem que ficar de olho, André, porque aconteceu agora com a Apple, e olha que é recente, né, estou falando de março para cá, já veio a primeira pancada. A União Europeia vai cada vez mais ditar as regras das Big Techs no mundo. E aí, não adianta você falar: “ah, mas a Apple é norte Americana.” No resto do mundo, essas empresas têm tantos dados espalhados por tantos países, que é mais fácil se adequar, muitas vezes, à União Europeia do que ficar criando uma regra, um modelo, uma arquitetura de tecnologia para cada país. É meio confuso.

Então, na prática, o que eu estou vendo é que a União Europeia não é a grande produtora, não tem nenhuma dessas Big Techs da União Europeia, mas ela acaba hoje servindo como a grande balizadora tecnológica, via suas regras cada vez mais restritivas. Não estou criticando as regras, não, elas têm ali suas suas razões para existirem. Só estou dizendo que a União Europeia vai vir cada vez mais com chumbo grosso para cima das Big Techs.

[ANDRE MICELI]

Você, Carlos Aros, está de olho em que?

[CARLOS AROS]

De olho em uma celeuma, André Miceli, que se instalou no mercado dos marketplaces aqui no Brasil, mas dentro do setor de eletrônicos de smartphones, a partir de uma publicação da Anatel, a agência que regula o segmento determinou regras para a comercialização de celulares. O que a Anatel disse? Que é um esforço para combater os celulares legais, porque isso coloca em risco o consumidor. Boa parte deles não recolhe tributos, uma parcela ainda maior não oferece qualquer tipo de assistência.

E aí, o que a Anatel prevê é que, a partir de um calendário que está disponível nessa publicação, começam multas, que chegam ali a 200 mil (reais) por dia num primeiro período. Aí depois, no segundo período, as ofertas dos aparelhos têm que ser removidas como punição, mais uma multa de 1 milhão (de reais) por dia. E aí, depois começa, numa terceira fase, multas de 6 milhões (de reais) por dia e a remoção de todas as ofertas de dispositivos de radiofrequência. E aí, com a possibilidade inclusive dos sites saírem do ar, e isso, óbvio, deixou alguns marketplaces como a Amazon, Mercado Livre e outros com os cabelos em pé.

O presidente da Anatel disse que não gostaria de chegar no limite do bloqueio dessas lojas, que não quer agir dessa forma, mas que o mercado não pode colocar o consumidor em risco, e que tirar os sites do ar seria uma medida extrema, é o que diz o Baigorri, que é o meu xará, o Carlos Baigorri, que é o presidente da Anatel.

Ele disse que o bloqueio teria efeito em todas as lojas que se enquadram nesse cenário da comercialização dos celulares irregulares. Vale dizer que essa é uma discussão que envolve a Anatel já há bastante tempo. Uma discussão que não encontrou, em episódios anteriores, um desfecho que se resolvesse, que solucionasse essa questão de maneira definitiva, de maneira efetiva. Tanto é que os celulares se multiplicam, esses celulares irregulares.

Então, segundo ele – e aí ele diz quatro anos, eu me lembro de uma discussão anterior a isso – mas ele diz que a Anatel tenta diálogo com as empresas há quatro anos. E que agora a paciência acabou. Esse é um segmento, o de smartphones junto do segmento de eletrônicos, de maneira ampla e irrestrita, que tem a venda de aparelhos irregulares, produtos irregulares como uma prática comum, estimulada pelos preços, estimulada por um mercado paralelo que não é nenhum pouco fiscalizado. E aí, agora a responsabilidade recai sobre os marketplaces justamente porque eles não teriam, aliás, porque eles teriam a obrigação de serem mais restritos quanto aos produtos que são vendidos nas suas páginas.

Vale lembrar que são centenas de vendedores, de lojas dentro dessas páginas e essas páginas fazem filtros. Os celulares irregulares representam uma parcela daquilo que é problemático sendo vendido nesses marketplaces. A gente tem aí desde, enfim, uma infinidade de produtos que violam as leis do que são ilegais, portanto, sendo comercializados. E aí, é um trabalho de enxugar gelo.

As plataformas pouco se mobilizam, tem algumas políticas para fazer essa remoção, mas aparentemente é insuficiente. Do outro lado, o regulador também não consegue alcançar termos mais efetivos. Agora vamos acompanhar. O negócio é estourar uma pipoca e ficar assistindo o que vai acontecer. Porque eu acho que as empresas não vão conseguir oferecer respostas tão enfáticas quanto a Anatel quer. Se elas fossem fazer isso, teriam feito já há bastante tempo.

[ANDRE MICELI]

Bom, meus amigos, é isso, está na hora.

Mas antes de ir, eu quero lembrar que esse podcast é um oferecimento do SAS.

Quero também deixar um agradecimento ao Governo do Estado do Rio de Janeiro e à Petrobras, que foram os patrocinadores master do Energy Summit e do EmTech.

E, claro, outros patrocinadores, as empresas apoiadoras, os voluntários que fizeram o evento acontecer. Nosso time aqui de MIT Technology Review Brasil, do Energy Summit, enfim. Foi um evento muito legal e tem um monte de coisa para acontecer a partir de agora.

Já já, semana que vem, tem Innovative Workplaces, a premiação dos vencedores. E no mês seguinte, lá no Rio Inovation Week, o Innovators Under 35.

Agenda cheia para MIT Technology Review Brasil nos próximos meses.

Rafa Coimbra, até a semana que vem.

[RAFAEL COIMBRA]

Abraço, André, Aros e a todos que nos ouvem. Fiquem ligados nas nossas redes sociais porque tudo isso que o André falou vai se transformar em conteúdo. Muita análise, muita discussão, muitas entrevistas gravadas, transformadas em conteúdo e inteligência. Até semana que vem.

[ANDRE MICELI]

Carlos Aros, até a semana que vem.

[CARLOS AROS]
Até a semana que vem, André Miceli. Um abraço para você, para o Rafa e para quem nos acompanha.

[ANDRE MICELI]

É isso. Semana que vem a gente se encontra por aqui no podcast da MIT Technology Review Brasil, o podcast mais legal para você ouvir sobre tecnologia, negócios e sociedade.

Um grande abraço para você que nos ouve, tchau, tchau.

[VINHETA FINAL]

Último vídeo

Nossos tópicos