Em meio a uma intensa disputa tecnológica, comercial e tarifária entre China e Estados Unidos, as duas maiores potências mundiais, faz-se necessário que o Brasil encontre espaço para desenvolver seus próprios modelos de IA. Esta é a avaliação de Cláudia Trevisan, diretora-executiva do CEBC (Conselho Empresarial Brasil China) e Kevin Tang, fundador da InovaChina.
Os dois participaram do painel “A Corrida pelo Poder da IA: China, Ocidente e o Tabuleiro Global” no EmTech, evento do MIT Technology Review que acontece pela primeira vez em São Paulo nos dias 29 e 30 de setembro. A conversa foi medida por Ted Hu, gerente sênior de licenciamento da MIT Technology Review.
Cláudia destacou que é importante que o Brasil desenvolva seus próprios modelos de inteligência artificial. “O medo da perda de empregos é um problema global. Todos estão preocupados com isso, mas o desenvolvimento da IA é inevitável. Se você não desenvolve, você vai perder muito em termos de competitividade”, avaliou.
Ela também relembrou o conceito de colonialismo digital, que vem sendo apontado no uso de IA, uma vez que os sistemas são treinados em inglês e alimentados com mais referências norte-americanas. “Acho importante ter modelos em português, que usa referências do Brasil e que as pessoas possam se identificar mais”, explicou.
Tang concordou que o desenvolvimento dos próprios modelos deve estar no horizonte para o Brasil, mas fez algumas ressalvas. Em primeiro lugar, ele lembrou que ainda que novos sistemas sejam criados aqui, recursos como hardware ainda devem ser importados de países como a China. Além disso, para ele, o Brasil ainda precisa resolver problemas como regulação antes de avançar no desenvolvimento de novas tecnologias e IA.
“Há muito trabalho a ser feito, não duvido que o Brasil consiga fazer, mas acho que será em áreas muito compartimentadas, onde o Brasil já tem excelência”, previu o fundador da InovaChina, citando agricultura e energias renováveis. “Em alguns setores o Brasil vai liderar, outros nem tanto. Vamos ver, vão ser tempos interessantes”, completou.
Quanto à posição do Brasil em meio ao cenário geral de disputa entre Estados Unidos e China, Cláudia Trevisan e Kevin Tang destacaram as boas relações do Brasil com a China, seu principal parceiro comercial, que na avaliação deles deve continuar rendendo bons frutos. Cláudio lembrou o acordo entre EUA e China que está sendo costurado após a imposição de tarifas pelo governo de Donald Trump e explicou que há um receio que possa haver nele algo que prejudique o Brasil. “Estamos atentos ao que vai acontecer nessa relação, mas as relações entre o Brasil e a China estão em um ótimo lugar agora”, disse.
Tang chamou atenção para o fato de que a China vêm liderando o desenvolvimento de novas tecnologias e, dadas as boas relações com o Brasil, “o próximo passo lógico seriam essas empresas chinesas implementarem essas novas tecnologias no mercado brasileiro”. Nesse sentido, ainda que os EUA ainda estejam liderando no mercado de inteligência artificial, Cláudia avaliou que “a China está implementando IA de uma forma muito mais eficiente do que os EUA”.