Diversidade de gênero na alta gestão das empresas impulsiona práticas de inovação e governança
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Diversidade de gênero na alta gestão das empresas impulsiona práticas de inovação e governança

Pesquisas revelam os impactos positivos das lideranças femininas nas empresas.

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A taxa de progresso na porcentagem de cargos de liderança ocupados por mulheres cresceu, ainda que a passos lentos, nos últimos 20 anos. De acordo com o relatório “Woman in Business 2024” da consultoria Grant Thornton International, hoje 33,5% das posições de alta gestão no mercado global de médio porte são ocupadas por mulheres.

O aumento da participação feminina em cargos de gestão, incluindo a função de CEO — hoje apenas 19% das pessoas que ocupam essa posição são mulheres, de acordo com a Grant Thornton International —, pode trazer benefícios diversos para as organizações em diferentes aspectos.

Por exemplo, estudos recentes sugerem que as empresas com maior diversidade de gênero nas diretorias apresentam melhores resultados financeiros. A pesquisa Women in Top Management: performance of Firms and Open Innovation, que analisou dados de relatórios anuais de 60 empresas não financeiras listadas na Bolsa de Valores do Paquistão entre 2013 e 2019, mostra que um aumento de 1% na diversidade de gênero nos conselhos diretivos resultou em um crescimento de 5,1% na rentabilidade sobre ativos (ROA).

De acordo com o estudo, as mulheres tendem a ser mais estratégicas em termos de mensuração de risco, o que contribui para a estabilidade financeira. A inclusão feminina nos comitês de auditoria, por exemplo, foi correlacionada a uma redução de 9,4% no comportamento de tomada de risco. Já o nível de estabilidade das empresas cresceu em 8%.

Isso se deve ao fato de que em vez de buscar estratégias agressivas de crescimento, as lideranças femininas costumam agir de maneira mais cautelosa na hora de analisar decisões, priorizando o equilíbrio financeiro e a sustentabilidade de longo prazo.

Outras pesquisas ainda destacam a influência das mulheres na governança corporativa. Essa questão estaria diretamente atrelada ao fato de que conselhos compostos por mulheres e homens têm maior capacidade de identificar riscos e oportunidades de maneira mais abrangente. Ou seja, essa diversidade promove um processo decisório mais estruturado, inclusivo e, consequentemente, mais eficaz em termos de governança.

Inovação e tecnologia

No entanto, essa cautela no estilo de liderar não impacta as práticas de inovação. Ao contrário, o aumento da eficiência da administração interna e da governança ajudam a fomentar o desenvolvimento de novas ideias e soluções. Alguns estudos apontam, por exemplo, que a presença feminina nos conselhos está associada a práticas de monitoramento capazes de influenciar o aumento da inovação organizacional.

Outro fator relevante é a criatividade e a capacidade de adaptação que a diversidade proporciona, estratégias que, muitas vezes, passam despercebidas em ambientes de liderança homogêneos. Conselhos administrativos diversos não apenas estimulam a inovação, mas também enriquecem a cultura organizacional, tornando-a mais rica, diversa e competitiva.

Mas esse progresso ainda é um desafio para as organizações. Um levantamento, da PWC, aponta que 85% das empresas definem iniciativas de diversidade, equidade e inclusão como prioridade, mas apenas 5% desses programas atingem o nível mais alto de maturidade.

Gissele Lanza, Vice President, Sales & Marketing Group, General Manager da Intel América Latina, enfatizou a importância da diversidade para a criação de ambientes inovadores, no documentário Lideranças Femininas, produzido pela MIT Technology Review Brasil.

“É importante a gente ter um grupo de colaboradores que é diverso, que é representativo da sociedade onde a gente vive. E para isso a gente precisa criar um ambiente de inclusão. Não é suficiente você ter diversidade do ponto de vista das pessoas, os repertórios que essas pessoas têm, seja raça, gênero, idade e as experiências que essas pessoas tiveram na vida. Você precisa criar um ambiente onde essas pessoas, de fato, sentem que são ouvidas, que pertencem e que conseguem se expressar. Aí você realmente cria a riqueza de pensamento e a colaboração para inovar.”

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Adriana Menezes, diretora de TI da Generali, por sua vez, destacou a importância de estimular todos os membros da organização a contribuírem com uma cultura mais inovadora, em entrevista à MIT Technology Review Brasil durante a premiação do Innovative Workplaces 2024. O prêmio reconhece as empresas com as melhores práticas de inovação do Brasil.

“É superimportante para o sucesso da jornada de inovação o envolvimento de toda a empresa. Eu acho que a inovação tem que permear a empresa toda porque isso fomenta a ideia de pensar fora da caixa e trazer a inovação para o dia a dia. Você repensa como agir, como responder a um problema, como atender um cliente. São pequenos detalhes que podem fazer grandes diferenças.”

O cenário brasileiro

No Brasil, a inclusão de mulheres em cargos de liderança tem avançado lentamente, mas com resultados promissores. Dados da B3 (Bolsa de Valores do Brasil) mostram que, em 2022, apenas 12% dos cargos de diretoria das empresas listadas eram ocupados por mulheres.

No setor público, a atual participação das mulheres em cargos de alta liderança é de 41,6%, de acordo com relatório do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos do Governo Federal, publicado em março deste ano.

O Brasil implementou algumas políticas para incentivar a participação feminina em cargos executivos, como o programa “Mulheres em Conselho”, que visa aumentar a presença feminina em conselhos de administração.

Em termos de impacto financeiro, um estudo do Credit Suisse revelou que empresas brasileiras com pelo menos uma mulher no conselho de administração tiveram um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) 4% maior, em comparação com empresas sem representação feminina. O dado reforça a correlação positiva entre diversidade de gênero e performance financeira, conforme as tendências globais.

A cultura corporativa ainda carrega resquícios de discriminação e preconceito, e muitas mulheres enfrentam barreiras para alcançar cargos de alta gestão. No entanto, a expectativa é de que o Brasil continue a avançar em direção a uma maior inclusão feminina no mundo corporativo, impulsionado por políticas públicas e demandas de mercado que valorizam a equidade de gênero.

O movimento “Elas Lideram”, por exemplo, uma iniciativa co-liderada pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global da ONU no Brasil pretende levar mais de 11 mil mulheres para cargos de alta liderança até 2030. Ao todo, foram 57 empresas que se comprometeram com as metas de ampliar a participação feminina em cargos de alta gestão em 30% até 2025 ou 50% até 2030.

A previsão é de que esse cenário de evolução também se reflita em outros países. Afinal, organizações que abraçam essa diversidade não estão apenas respondendo às demandas de uma sociedade em transformação, mas também se preparando para os desafios futuros.

Políticas que incentivem a inclusão, aliadas a uma governança eficiente, serão os pilares para a construção de um ambiente de negócios mais equilibrado, inovador e competitivo nos próximos anos. E a inclusão das mulheres nesses processos será fundamental para a construção de culturas organizacionais fortes e resilientes

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