Clínicas de longevidade vendem tratamentos não comprovados
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Clínicas de longevidade vendem tratamentos não comprovados

Uma pesquisa com 82 clínicas ao redor do mundo revela o cenário desorganizado da medicina da longevidade.

A busca por uma vida longa e saudável, e até mesmo pela imortalidade, provavelmente é quase tão antiga quanto a humanidade, mas nunca foi tão popular como agora. Hoje, meu feed de notícias está cheio de afirmações sobre dietas, rotinas de exercícios e suplementos que me ajudarão a viver mais.

Muito disso é apenas marketing, claro. Deveria ser bastante óbvio que uma dieta saudável, rica em plantas, e exercícios moderados ajudam a manter a boa forma. E nenhum medicamento ou suplemento ainda foi comprovado como capaz de aumentar a expectativa de vida humana.

O crescente campo da medicina da longevidade aparentemente busca algo entre esses dois extremos do espectro do bem-estar. Ao combinar as ferramentas estabelecidas da medicina clínica (como exames de sangue e imagens) com algumas mais experimentais (testes que medem a sua idade biológica), essas clínicas prometem ajudar seus clientes a melhorar a saúde e a longevidade.

Mas uma pesquisa realizada com clínicas de longevidade ao redor do mundo, feita por uma organização que publica atualizações e estudos sobre a indústria, revela um quadro confuso. Na realidade, essas clínicas, a maioria das quais atende apenas os mais ricos, variam bastante em suas ofertas.

Hoje, o número de clínicas de longevidade é estimado em centenas. Seus defensores afirmam que elas representam o futuro da medicina. “Podemos escrever novas regras sobre como tratamos os pacientes”, disse Eric Verdin, que dirige o Buck Institute for Research on Aging, em um congresso no ano passado.

Não me surpreendi ao ver que muitas clínicas estão oferecendo tratamentos estéticos, com foco maior em como seus clientes parecem mais jovens.

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Das clínicas pesquisadas, 28% disseram que oferecem injeções de botox, 35% oferecem tratamentos para queda de cabelo e 38% oferecem “procedimentos de rejuvenescimento facial”. “A distinção entre medicina da longevidade e medicina estética continua embaçada”, escreveu Andrea Maier, da Universidade Nacional de Cingapura e cofundadora de uma clínica privada de longevidade, em um comentário sobre o relatório.

Maier também foi ex-presidente da Healthy Longevity Medicine Society, uma organização criada com o objetivo de estabelecer padrões clínicos e credibilidade para clínicas de longevidade. Outros resultados da pesquisa ressaltam o quão desafiador isso será; muitas clínicas ainda oferecem tratamentos não comprovados. Mais de um terço das clínicas disse que oferece tratamentos com células-tronco, por exemplo. Não há evidências de que eles ajudam as pessoas a viver mais nem que sejam isentos de risco.

Fiquei um pouco surpresa ao ver que a maioria das clínicas também está oferecendo medicamentos com receita de forma off-label. Em outras palavras, medicamentos aprovados para problemas médicos específicos estão aparentemente sendo prescritos para o envelhecimento. Isso também não é isento de riscos. Todos os medicamentos têm efeitos colaterais. E, novamente, nenhum deles foi comprovado para desacelerar ou reverter o envelhecimento.

E essas prescrições estão vindo de médicos certificados. Mais de 80% das clínicas relataram que sua prática estava sendo supervisionada por um especialista com mais de 10 anos de experiência clínica.

Também foi um pouco surpreendente saber que, apesar das altas taxas, a maioria dessas clínicas não está obtendo lucro. Para os clientes, os custos anuais de frequentar uma clínica de longevidade variam entre aproximadamente R$ 51 mil e R$ 765 mil, de acordo com a Fountain Life, uma empresa com clínicas na Flórida e em Praga. Mas apenas 39% das clínicas pesquisadas disseram que estavam lucrando e 30% disseram que estavam “chegando perto de equilibrar as contas”, enquanto 16% disseram que estavam funcionando com prejuízo.

Os defensores das clínicas de longevidade têm grandes expectativas para a área. Eles veem a área como nada menos que uma revolução, uma mudança de tratamentos reativos para a manutenção proativa da saúde. Mas esses resultados da pesquisa mostram o quanto ainda há que ser feito.

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