A cidade de Monterrey, no nordeste do México, é uma potência industrial que rapidamente devorou o espaço verde para dar lugar aos seus 5,3 milhões de habitantes. A cadeia de montanhas da Sierra Madre Oriental ao redor da cidade ainda se mantém forte, embora as colinas estejam sendo cada vez mais invadidas pela expansão urbana de arranha-céus, prédios residenciais, parques industriais e rodovias. O mesmo não pode ser dito sobre o Rio Santa Catarina, que tem sido o núcleo vital da cidade há centenas de anos.
Hoje, o Rio Santa Catarina se parece mais com uma floresta do que um rio. Em sua maior parte, é um amontoado seco de rochas cuja água é desviada para suprir as crescentes necessidades da cidade. Grande parte do leito do rio é obscurecida pela vegetação que cresceu selvagemente desde que um furacão em 2010 destruiu muitas estruturas ao longo do rio, incluindo campos de futebol, estacionamentos e um campo de minigolfe. Mas, apesar do que muitas autoridades municipais e residentes pensam sobre ele, esse rio urbano está muito vivo e um grupo de jovens mulheres quer provar isso.
O grupo, chamado Viaje al Microcosmos de Nuevo León (Viagem ao Microcosmo de Nuevo León), não é formado por cientistas, mas sim por cidadãos preocupados. Por meio do uso da arte e da ciência cidadã, seus membros estão documentando e compartilhando com outras pessoas a natureza esquecida do rio — suas árvores, arbustos, pássaros, flores, insetos e até mesmo microrganismos (de onde vem o nome do grupo).
Desde o outono de 2021, o Viaje al Microcosmos organiza caminhadas no rio para incentivar o público em geral a explorar o espaço e fazer novas conexões com esse corpo d’água incompreendido. Nos últimos anos, os participantes criaram seus próprios microscópios para estudar amostras de água que coletaram; criaram uma instalação de arte imersiva para mostrar as espécies que vivem no rio; produziram um podcast; desenvolveram um modelo para ajudar as pessoas a documentarem a qualidade da água; contribuíram para a página do Rio Santa Catarina na Wikipédia; e muito mais. Cada atividade ajuda a construir uma comunidade de moradores da cidade que acreditam que o rio é um recurso natural que merece ser protegido. O esforço parece ainda mais urgente em um cenário de seca regional, aumento das temperaturas e um governo que continua a deixar as questões ambientais em segundo plano.
O objetivo do Viaje al Microcosmos é multifacetado e ambicioso. Os ativistas querem criar uma comunidade de cientistas cidadãos que se oponha à crença de que o rio está à venda. Eles querem produzir informações sobre o rio que possam moldar políticas públicas e ajudar em sua preservação. Mas, talvez o mais importante, eles querem introduzir o pensamento revolucionário de que o Rio Santa Catarina pode, de fato, ser apenas isso: um rio.
Lorena Ríos é uma jornalista freelancer que vive em Monterrey, México.