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Como você já deve saber, a China proibiu a exportação desses materiais para os EUA e impôs restrições a outros. Essa medida é apenas o mais recente episódio no aumento das tensões comerciais entre os dois países.
Embora as novas proibições de exportação possam ter consequências econômicas significativas, isso pode ser apenas o começo. A China é uma potência, e não apenas nesses materiais de nicho — ela também domina o setor de energia limpa, especialmente nas cadeias de fornecimento de baterias. O que pode acontecer a seguir pode ter consequências importantes para os veículos elétricos (VEs) e para as ações climáticas de forma mais ampla.
Um resumo rápido das notícias: Recentemente, o governo Biden restringiu as exportações de chips e outras tecnologias que poderiam ajudar a China a desenvolver semicondutores avançados. Além disso, o presidente eleito Donald Trump sugeriu tarifas sobre produtos chineses.
Em aparente resposta a algumas ou todas essas medidas, a China proibiu a exportação de gálio, germânio, antimônio e materiais superduros usados na fabricação, e afirmou que pode impor restrições adicionais à venda de grafite. Esses materiais têm aplicações tanto militares quanto civis e, significativamente, o gálio e o germânio são usados na fabricação de semicondutores.
Essa é uma escalada em relação a julho passado, quando a China impôs restrições às exportações de gálio e germânio, após anos de restrições impostas pelos EUA e seus aliados ocidentais sobre tecnologias de ponta. O que me chamou a atenção nessa notícia é que isso pode ser apenas o começo, pois a China é central para muitas das cadeias de fornecimento globais.
Isso não é por acaso — o gálio é um bom exemplo. O metal é um subproduto da produção de alumínio a partir do minério de bauxita. Como o maior produtor de alumínio do mundo, a China tem uma vantagem competitiva para dominar o fornecimento desse material de nicho. Outros países poderiam produzir gálio, e certamente produzirão, mas a China saiu na frente porque investiu em tecnologias de separação e refino do metal.
Uma situação semelhante ocorre no mercado de baterias. A China é dominante em toda a cadeia de fornecimento das baterias de íons de lítio — não porque tenha as reservas desses metais em seu território (não tem), mas porque investiu em tecnologias de extração e processamento.
Veja o caso do lítio, um componente crucial para as baterias. A China possui cerca de 8% das reservas mundiais de lítio, mas processa aproximadamente 58% do fornecimento global. A situação é semelhante para outros metais importantes para baterias. O níquel extraído na Indonésia é enviado para a China para processamento, assim como o cobalto da República Democrática do Congo.
Nas últimas duas décadas, a China investiu recursos, dinheiro e políticas no desenvolvimento de veículos elétricos. Hoje, o país lidera o mundo em registros de VEs, muitas das maiores fabricantes de VEs são chinesas, e o país abriga uma grande parte da cadeia de fornecimento desses veículos e de suas baterias.
À medida que o mundo avança em direção a tecnologias como os veículos elétricos, fica cada vez mais claro o quão dominante é a posição da China nos materiais essenciais para construir essa tecnologia.
Os preços do lítio caíram 80% no último ano, e embora parte dessa queda esteja ligada a uma desaceleração na demanda por veículos elétricos, outra razão, segundo autoridades dos EUA, é o excesso de oferta de lítio pela China. Ao inundar o mercado e derrubar os preços, a China poderia dificultar a permanência de outros processadores de lítio no setor.
Os novos controles de exportação de grafite pela China também podem impactar o mercado de baterias. O grafite é um componente crucial das baterias de íons de lítio, usado nos ânodos. Ainda não está claro se as novas proibições afetarão materiais para baterias ou apenas materiais de alta pureza usados em aplicações militares, segundo informações do Carbon Brief.
Até agora, a China não proibiu explicitamente as exportações de materiais-chave para baterias, e não está claro até onde o país estaria disposto a ir. A política comercial global é complexa e delicada, e qualquer movimento da China nas cadeias de fornecimento de baterias poderia acabar prejudicando sua própria economia.
No entanto, podemos estar entrando em uma nova era de políticas baseadas em materiais. Restrições adicionais ao grafite ou ações que afetem o lítio, níquel ou cobre poderiam ter grandes efeitos em cascata ao redor do mundo, especialmente para as tecnologias climáticas. Afinal, baterias são essenciais não apenas para os veículos elétricos, mas também, cada vez mais, para as redes elétricas globais.
Embora as tensões estejam claramente aumentando, ainda não está claro o que vai acontecer em seguida. A incerteza é a palavra da vez — e é exatamente por isso que tantos profissionais do setor de tecnologia estão focados em diversificar as cadeias de fornecimento globais. Caso contrário, podemos descobrir o quão intrincadas essas cadeias realmente são e o que acontece quando puxamos os fios centrais que as sustentam.
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