Durante o inverno, os ovos praticamente desapareceram das prateleiras. Com o avanço de um surto de gripe aviária em fazendas leiteiras e avícolas, os supermercados enfrentaram dificuldades para manter o produto disponível. A escassez e os preços recordes em fevereiro elevaram significativamente os custos para restaurantes e padarias, e fizeram com que alguns consumidores deixassem de lado esse item básico do café da manhã. Mas uma equipe da Universidade de Washington (Washington University), em St. Louis, no estado do Missouri, Estados Unidos, desenvolveu um dispositivo que pode ajudar a conter surtos futuros ao detectar o vírus da gripe aviária em amostras de ar em apenas cinco minutos.
A gripe aviária é um vírus transmitido pelo ar que se espalha entre aves e outros animais. Surtos em fazendas de aves ou gado leiteiro são devastadores; o abate em massa dos animais expostos muitas vezes é a única forma de conter a propagação. Algumas cepas também já infectaram humanos, embora isso seja raro. Até o início de março, haviam sido registrados 70 casos humanos e uma morte confirmada nos EUA, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention, em inglês).
O método mais comum para detectar a gripe aviária envolve a coleta com cotonetes de locais potencialmente contaminados e o sequenciamento do DNA presente, um processo que pode levar até 48 horas.
O novo dispositivo faz a coleta do ar em tempo real, processando as amostras por um biossensor especializado a cada cinco minutos. O sensor utiliza fitas de material genético chamadas aptâmeros, que são pequenas moléculas de ácidos nucléicos que se ligam especificamente ao vírus. Quando isso acontece, ocorre uma mudança elétrica detectável. A pesquisa, publicada em fevereiro na revista ACS Sensors, pode ajudar produtores a conter surtos futuros.
Parte do trabalho do grupo envolveu encontrar uma maneira de entregar partículas virais presentes no ar diretamente ao sensor.
No caso da gripe aviária, explica Rajan Chakrabarty, professor de engenharia de energia, meio ambiente e química na Universidade de Washington e autor principal do estudo, “a maçã podre está cercada por um milhão ou um bilhão de maçãs boas”. E completa: “O desafio foi pegar um patógeno que está no ar e transformá-lo em forma líquida para fazer a amostragem.”
A equipe conseguiu isso projetando uma caixa do tamanho de um micro-ondas que suga grandes volumes de ar e os faz girar em um movimento semelhante a um ciclone, fazendo com que as partículas grudem em paredes revestidas com líquido. O processo gera, de forma contínua, um gotejamento líquido que é direcionado para o biossensor de alta sensibilidade.
Embora o sistema seja promissor, sua eficácia em condições reais ainda é incerta, afirma Sungjun Park, professor associado de engenharia elétrica e de computação na Universidade Ajou, na Coreia do Sul, que não participou do estudo. Poeira e outras partículas presentes no ar das fazendas podem prejudicar o desempenho do dispositivo. “O estudo não discute de forma aprofundada o desempenho do aparelho em amostras de ar mais complexas do mundo real”, diz Park.
Ainda assim, Chakrabarty está otimista quanto à viabilidade comercial do sistema após novos testes e já trabalha com uma empresa de biotecnologia para ampliar sua produção. Seu objetivo é desenvolver um chip biossensor capaz de detectar múltiplos patógenos ao mesmo tempo.