A água deste spa é aquecida por mineração de bitcoin
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A água deste spa é aquecida por mineração de bitcoin

Entusiastas da moeda digital estão aproveitando um subproduto da imensa carga computacional da atividade para aquecer banheiras de hidromassagem, edifícios comerciais e residências

À primeira vista, o spa Bathhouse, no Brooklyn (EUA), não parece muito diferente de outros spas de alto padrão. O que o distingue está fora de vista: um armário cheio de computadores de mineração que não só geram bitcoins, mas também aquecem as piscinas, hammams de mármore (banhos turcos) e chuveiros do spa.

Quando o cofundador Jason Goodman abriu a primeira unidade do Bathhouse em Williamsburg, em 2019, ele usava aquecedores convencionais de piscina. Mas depois de se aprofundar no mundo da Bitcoin, ele percebeu que poderia integrar a atividade de mineração de forma perfeita em seu negócio. Isso porque o processo, no qual computadores especiais (chamados mineradores) fazem trilhões de tentativas por segundo para encontrar a sequência de números que vai gerar um ativo digital, consome enormes quantidades de eletricidade — o que, por sua vez, gera muito calor que normalmente seria desperdiçado.

“Eu pensei: ‘Isso é interessante, nós precisamos de calor’”, diz Goodman sobre o Bathhouse. As instalações da operação geralmente usam ventiladores ou água para resfriar seus computadores. E as piscinas, claro, são uma característica marcante do spa.

São necessários seis mineradores, cada um do tamanho aproximado de um console Xbox One, para manter uma banheira de hidromassagem a 40°C. Na localização do Bathhouse em Williamsburg, as unidades de mineração operam silenciosamente dentro de dois grandes tanques, guardados em um armário entre garrafas de licor e chás. Para mantê-los frescos e silenciosos, as unidades são imersas diretamente em óleo não condutivo, que absorve o calor gerado e é bombeado através de tubos sob as banheiras e hammams do Bathhouse.

As caldeiras de mineração, que resfriam os computadores bombeando água fria que retorna a 77°C, também estão sendo usadas no local. Uma bateria térmica armazena o calor excedente para uso futuro.

Goodman afirma que seus spas não estão economizando energia ao usar os mineradores de bitcoin para aquecer, mas também não estão usando mais eletricidade do que usariam com o aquecimento convencional da água. “Eu só estou inserindo os operadores nessa cadeia”, diz.

Ele não é o único a ver o potencial no aquecimento com criptoativos. Na Finlândia, a MARA Holdings transformou frotas de mineradores de Bitcoin em um sistema de aquecimento distrital para aquecer as casas de 80.000 moradores. A HeatCore, uma fornecedora de serviços de energia integrada, usou o processo de mineração de bitcoin para aquecer um prédio comercial na China e manter as piscinas a uma temperatura constante para a criação de peixes. Este ano, começará um projeto piloto para aquecer a água do mar para dessalinização. Em uma escala menor, fãs de bitcoin que também querem um pouco de calor extra podem comprar mineradores que funcionam como aquecedores de ambiente.

Entusiastas da tecnologia como Goodman acreditam que muito mais disso está por vir, especialmente sob a administração [do presidente americano Donald] Trump, que anunciou planos para criar uma reserva de bitcoin. Essa perspectiva alarma os ambientalistas.

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A energia necessária para uma única transação de moeda digital varia, mas, em meados de março, era equivalente à energia consumida por uma casa média nos EUA durante 47,2 dias, de acordo com o Índice de Consumo de Energia do Bitcoin, administrado pelo economista Alex de Vries.

Entre as várias criptomoedas, a mineração de bitcoin consome, de longe, a maior quantidade de energia. De Vries aponta que outras, como o Ethereum, eliminaram a mineração e implementaram algoritmos menores em energia. Mas os usuários de bitcoin resistem a qualquer mudança em sua moeda, então de Vries duvida que uma mudança na operação aconteça tão cedo.

Um dos principais entraves para utilizar a Bitcoin como fonte de calor, diz de Vries, é que ele só pode ser transportado por curtas distâncias antes de se dissipar. “Eu vejo isso como algo extremamente nichado”, afirma. “Simplesmente não é competitivo, e não se pode fazer funcionar em grande escala.”

Quanto mais fontes renováveis forem adicionadas às redes elétricas para substituir os combustíveis fósseis, mais limpa a atividade de criptomoedas se tornará. Mas mesmo com energia renovável, “isso não o torna ambientalmente viável”, diz Kaveh Madani, diretor do Instituto da Universidade das Nações Unidas para Água, Meio Ambiente e Saúde. A mineração consome recursos valiosos que poderiam ser usados para atender às necessidades energéticas existentes, afirma Madani.

Para Goodman, relaxar em água aquecida por bitcoin é um uso totalmente justificável de energia. Ela acalma os músculos, tranquiliza a mente e desafia as estruturas econômicas atuais, tudo ao mesmo tempo.

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