A Lua não morreu tão cedo como se pensava
Natureza e espaço

A Lua não morreu tão cedo como se pensava

Amostras coletadas de um módulo lunar chinês podem mudar tudo o que se sabe sobre o histórico vulcânico da Lua.

A Lua pode ter tido mais atividade vulcânica do que pensávamos.

Amostras lunares que a nave espacial da China, Chang’e 5, trouxe à Terra revelam novos indícios de vulcões e planícies de lava na superfície da Lua. Em um estudo publicado em outubro pela Science, pesquisadores dão detalhes sobre a mais recente coleta de lava.

Elas foram coletadas na região do Oceanus Procellarum, ou Oceano das Tormentas, conhecido pelo enorme mar de lava solidificado em rochas basálticas. A amostra analisada indica que a Lua passou por uma era de atividade vulcânica que durou mais do que os cientistas imaginavam.

Pesquisadores compararam fragmentos da mesma amostra para determinar quando o magma fundido havia cristalizado. Os resultados foram surpreendentes. No começo de suas vidas, pequenos corpos rochosos como a Lua normalmente esfriam mais rápido do que os maiores, mas as constatações mostraram que este não foi bem o caso da nossa vizinha celestial.

“Esperava-se que a Lua, por ser tão pequena, morresse pouco tempo após sua formação”, disse Alexander Nemchin, coautor do estudo e professor de geologia na Universidade Curtin, em Perth, na Austrália. “Esta amostra recente contradiz este conceito e precisaremos repensar um pouco – ou talvez muito – a visão que temos da Lua”.

Usando a datação de isótopos e uma técnica baseada na cronologia da cratera lunar, usada para estimar a idade de um objeto no espaço contando as crateras em sua superfície, a equipe determinou que a lava inundou o Oceanus Procellarum a pouco tempo, há 2 bilhões de anos.

Chang’e 5 foi a primeira missão chinesa a retornar da Lua com amostras e a primeira sonda a trazer material lunar desde 1976. Com seu lançamento realizado no final de novembro e retorno no início de dezembro de 2020, faz parte de uma das oito fases – até o momento – do programa lunar da China para explorar a totalidade deste corpo celeste.

Nemchin diz que não há evidências que elementos radioativos que gerem calor, como potássio, tório e urânio, existam em altas concentrações abaixo do manto da Lua. Isso quer dizer que estes elementos provavelmente não causaram as escoadas de lava, como os cientistas acreditavam. Agora, eles terão que buscar outras explicações para o fenômeno.

O histórico vulcânico da Lua pode nos ensinar mais sobre o da Terra. De acordo com a teoria do grande impacto, acredita-se que a Lua possa ser um pedaço da Terra que foi separado, resultado de uma colisão com outro planeta.

“Sempre que obtemos informações novas ou melhoradas sobre a idade do que há na Lua, ocorre um efeito em cadeia, e melhor compreendemos o universo, o vulcanismo, e, até mesmo, de modo geral, a geologia de outros planetas”, afirma Paul Byrne, professor associado de ciências terrestres e planetárias na Universidade de Washington, em St. Louis, não envolvido neste estudo.

A atividade vulcânica não apenas moldou a aparência da Lua – as enormes extensões escuras na superfície lunar são antigas planícies de lava e visíveis a olho nu –, como também pode ajudar a responder se estamos realmente sozinhos no universo, diz Byrne.

“A busca por vida extraterrestre requer, em partes, compreender as condições de habitabilidade”, conta Byrne. A atividade vulcânica desempenha um papel importante na criação de atmosferas e oceanos, componentes essenciais para a vida. Mas o que as novas descobertas nos contam sobre o potencial de vida fora da Terra só o tempo dirá.

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