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Atingir o equilíbrio entre governança e agilidade é um dos temas mais críticos em organizações que buscam evoluir sua capacidade de inovar. Para empresas ditas tradicionais em particular, um foco demasiado em governança pode sufocar a inovação ao priorizar gestão de risco e consistência operacional, ao passo que agilidade excessiva pode desestabilizar a estrutura necessária para garantir qualidade e conformidade às regras.
Esse foi um dos assuntos em pauta no Rio Innovation Week, uma das maiores conferências de inovação e tecnologia do país, que aconteceu na Cidade Maravilhosa em agosto. Em uma dessas discussões, de curadoria da MIT Technology Review Brasil, com participação de Philipp Nguyen, diretor-executivo de dados no Grupo Boticário, pude contribuir com alguns insights. Durante a discussão, falamos sobre a necessidade de chegar em um equilíbrio necessário para que organizações se mantenham competitivas ao promover a inovação, e, ao mesmo tempo, garantam a governança necessária para mitigar riscos e facilitar o crescimento de forma sustentável.
Quem trabalha com inovação e em negócios orientados por dados conhece bem as tensões que podem existir entre a necessidade de se ter uma governança de dados robusta e o desejo por uma tomada de decisão ágil. Tendo observado essas dinâmicas de perto, concluo que o ponto é encontrar o caminho do meio que permita, ao mesmo tempo, controle e velocidade.
De um lado, há a demanda por governança de dados, que é totalmente justificada. As organizações precisam garantir que seus dados estejam seguros, corretos e em conformidade do ponto de vista regulatório. Isso requer processos bem definidos e controles em torno da gestão desses dados. Mas, é importante pontuar que governança rígida demais pode empacar o curso da inovação e impactar aspectos que têm diretamente a ver com o resultado do negócio, como time-to-market.
Do outro lado desse dilema, temos a demanda por agilidade. Negócios de todos os segmentos precisam conseguir testar ideias rapidamente, evoluir conceitos e responder às condições de mercados em constante mudança. Para fazer isso acontecer, é preciso adotar uma abordagem flexível e descentralizada, que empodere equipes para experimentar e tomar decisões rapidamente.
Porém, mesmo que a solução seja achar o equilíbrio entre essas duas prioridades que concorrem entre si, não é uma tarefa fácil. Na prática, o que acaba acontecendo é uma dança delicada entre o controle centralizado e a tomada de decisão descentralizada, entre processos e criatividade.
A pista para essa dança em questão é uma cultura de comunicação e de colaboração. Ao promover o trabalho conjunto entre as diversas áreas de uma organização – TI, data analytics, unidades de negócio –, encontrar o ponto certo entre governança e agilidade torna-se um exercício menos complexo. Por outro lado, é preciso estar aberto para trocas mais frequentes entre as funções envolvidas, viabilizar programas de treinamento compartilhados, e, sobretudo, assumir um compromisso com a transparência.
Outro ponto essencial é investir nas ferramentas e tecnologias certas. Times (em especial, os não técnicos) precisam de plataformas que facilitem o acesso e análise de dados, e que não comprometam a qualidade e segurança dessas informações. A IA generativa é um exemplo de ferramenta que pode empoderar áreas de negócio para experimentar e criar, e, ainda assim, manter a governança e controle.
Costumo aconselhar empresas que encontram entraves nessa encruzilhada, entre agilidade e governança, a criar um ecossistema de dados flexível e responsivo que atenda às demandas de toda a organização. Isso significa, entre outras coisas, criar uma cultura de experimentação e aprendizado constante, e adaptar constantemente os processos e tecnologias para acompanhar a evolução do negócio.
Traduzir essas reflexões em práticas diárias não é simples, mas evoluir nesse caminho é essencial para navegar o mundo de empresas orientadas por dados. Organizações que conseguirem balancear as demandas por governança e agilidade estarão bem -posicionadas para acelerar a inovação, enfrentar a concorrência e entregar valor de fato para seus clientes.
Por Bruno Maia, head de inovação do SAS para América Latina e Caribe.