A agenda ambiental alemã e a questão nuclear
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A agenda ambiental alemã e a questão nuclear

E qual o papel da energia nuclear na agenda ambiental de ações contra as mudanças climáticas?

No final de abril, comemoramos o fim de uma figura imponente no mundo da energia: a potência nuclear na Alemanha. Nascimento: 16 de junho de 1961. Falecimento: 15 de abril de 2023. 

Há apenas uma década, a Alemanha usava energia nuclear para atender cerca de um quarto da demanda de eletricidade do país, mas agora isso acabou. No início de abril, o país fechou a última de suas usinas nucleares, 60 anos depois que a primeira começou a operar. 

As reações a este acontecimento são mistas. Alguns consideram isso uma vitória, comemorando o fato da Alemanha se afastar de uma fonte de eletricidade que consideram perigosa e defeituosa. Mas outros veem isso como um grande obstáculo potencial para as iniciativas climáticas contra o aquecimento global. Afinal, embora as usinas nucleares estejam sendo fechadas uma após a outra, a energia proveniente do carvão continuou a ser usada no país, fornecendo uma grande parte da eletricidade aos alemães e, ao mesmo tempo, emitindo gases poluentes. 

O verdadeiro desafio da Alemanha está por vir à medida que o país tenta atingir metas climáticas ambiciosas sem o fornecimento estável de eletricidade que a energia nuclear fornecia. Toda a situação destaca o que entendemos como uma questão importante no movimento climático hoje: qual é exatamente o papel da energia nuclear na agenda ambiental de ações contra as mudanças climáticas? 

Qual é a situação atual da energia nuclear na Alemanha? 

Houve uma longa e prolongada disputa na Alemanha sobre a energia nuclear que durou décadas. Aqui está o SparkNotes, um resumo de acontecimentos da newsletter Spark do que está acontecendo: 

  • Depois de alguns incidentes na década de 80 (incluindo alguns pequenos dentro da Alemanha, para não mencionar Chernobyl que aconteceu no que é hoje a Ucrânia), o apoio público à energia nuclear começou a diminuir. As perguntas sobre o que fazer com o lixo nuclear também começaram a aparecer mais. 
  • Depois de muitos protestos, o governo criou um plano para fechar todas as usinas nucleares, aprovado em lei em 2002.  
  • Após alguns vaivéns quanto a esta questão, as coisas se agravaram novamente em 2011 com o acidente de Fukushima no Japão. A chanceler alemã na época, Angela Merkel, pressionou o governo alemão para acelerar os fechamentos das usinas e encerrar os trabalhos até 2022. 
  • Os fechamentos, no entanto, foram adiados a partir de outubro de 2022 devido a preocupações com a segurança energética relacionada à guerra na Ucrânia. Mas em 15 de abril de 2023, às 23h59, horário local, a última usina nuclear da Alemanha foi desconectada da rede elétrica do país. 

Então, o que tudo isso tem a ver com as mudanças climáticas? 

O fechamento de usinas nucleares pode ser um grande empecilho para as metas climáticas. Embora a Alemanha tenha feito grandes progressos quanto ao uso de energia renovável, como a eólica e a solar, as emissões de gases poluentes de seu setor elétrico têm diminuído de forma surpreendentemente lenta. O país prometeu atingir emissões líquidas zero até 2045, mas não cumpriu suas metas climáticas para 2021 e 2022. Para atingir as de 2030, pode ser necessário triplicar o ritmo de seus cortes de emissões. 

Esse progresso lento é em parte porque, ao invés de substituir o uso de carvão, a energia eólica e solar estão substituindo a energia nuclear, uma fonte de energia de baixa emissão de gases de efeito estufa. 

A Alemanha ainda queima muito carvão (especialmente o de linhito, que é particularmente poluente) em comparação com muitas outras nações industrializadas. O governo da Alemanha se comprometeu a eliminar gradualmente o uso de carvão até 2038, com a liderança atual do governo visando uma meta anterior de 2030. No entanto, a redução da dependência desse combustível fóssil tem sido lenta; recentemente, durante o inverno, algumas usinas de carvão fechadas foram reabertas devido à crise de energia no país. 

Observar a diferença entre a França e a Alemanha, dois vizinhos com alto poder econômico na Europa Ocidental, pode servir como exemplo do porquê tudo isso é importante. 

Em 16 de abril, um dia após o encerramento das usinas nucleares na Alemanha, o país registrou uma alta intensidade de emissão de carbono para cada quilowatt-hora de eletricidade produzida (cerca de 476 gramas). Quase metade da eletricidade do país veio de fontes renováveis, no entanto, o carvão representou cerca de 30% do suprimento. 

Enquanto isso, na França, apenas 30% da eletricidade veio de fontes renováveis. Porém, a energia nuclear e a energia verde representam 93% do fornecimento de eletricidade no país. Ou seja, as emissões francesas para cada unidade de eletricidade foram menores do que as da Alemanha por um fator de quase 10, em 51 gramas de intensidade de carbono (CO₂-eq/kWh), principalmente pela forte dependência francesa em relação à energia nuclear. 

Então, a energia nuclear é necessária para a ação climática? 

Os defensores alemães da eliminação do uso de energia nuclear dizem que se livrar dela não impede que o país também abandone o carvão e cumpra as metas climáticas. “Não é uma questão de ou /ou: ambos precisam ser eliminados gradualmente. Todos os combustíveis fósseis precisam ser eliminados”, diz Miranda Schreurs, diretora de política ambiental e climática da Universidade Técnica de Munique (Alemanha). Schreurs fez parte do comitê de 2011 responsável pelo desenvolvimento do plano do governo para encerrar de vez as usinas nucleares alemães. 

Schreurs argumenta que a velocidade com que a Alemanha implantou as instalações de energias renováveis foi estimulada pela urgência do fechamento das usinas nucleares. Segundo ela, há também outras opções para abastecer o país com eletricidade de baixa emissão. 

Construir muitas linhas de transmissão elétricas pode ajudar a mover a energia de um local onde está ventando ou ensolarado, por exemplo, para onde não está. As tecnologias de armazenamento de energia, como hidrogênio verde e baterias, também podem ajudar a energia eólica e solar a atender a maior parte da demanda de eletricidade no país. 

No entanto, cumprir as metas climáticas no prazo exigido sem energia nuclear parece ser mais fácil falar do que fazer. De acordo com um relatório de 2022 da McKinsey, até o final da década, a capacidade de geração de eletricidade da Alemanha pode ficar cerca de 30 gigawatts abaixo do necessário se fecharem as usinas de carvão conforme o esperado. 

A era nuclear da Alemanha pode ter ficado para trás. A questão agora é se os combustíveis fósseis podem ser os próximos. 

Acompanhando o clima 

Os ônibus são subestimados. Mesmo que funcionem por meio da gasolina, um bom sistema de ônibus pode reduzir as emissões de gases em relação aos carros. (Scientific American) 

Um produto químico comum, o metanol, pode ajudar a tornar o transporte marítimo menos poluente. Porém, assim como acontece com outros combustíveis alternativos, o problema está nos detalhes. (Canary Media) 

Na China, carros movidos a metanol estão chegando às ruas. (MIT Technology Review americana) 

Se você estiver planejando viajar de avião em breve, pense duas vezes antes de escolher seu voo com base nas compensações de carbono. Especialistas dizem que, basicamente, muitos desses programas são sem sentido. (Washington Post) 

A maior parte da água retirada do rio Colorado (EUA) é destinada à alimentação das vacas. Novas estimativas sugerem que cerca de 80% da água usada do rio vai para a irrigação, e muitas das plantações são usadas para alimentar os animais. (Vox) 

A maior empresa de veículos elétricos da China decidiu não seguir adiante com a tecnologia de carros autônomos. Um porta-voz da BYD disse a repórteres na exposição de carros de Xangai que a empresa vê a tecnologia como “basicamente impossível”. (CNBC) 

A Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês) dos EUA anunciará novas regras importantes para a redução da poluição de carbono pelas usinas de energia. Essas regulamentações podem pressionar as fábricas a adotar a captura de carbono, uma tecnologia relativamente não comprovada. (New York Times) 

As novas regras provavelmente enfrentarão desafios legais e chegarão à Suprema Corte americana. (E&E News) 

Em 2022, a Suprema Corte americana decidiu que a EPA não poderia regular as emissões de gases das usinas de energia. (MIT Technology Review americana) 

A atividade secundária da Tesla pode eventualmente se tornar sua principal fonte de receita. Embora a empresa seja conhecida principalmente por seus veículos, o crescimento de seus negócios de armazenamento estacionário e energia solar aumentou mais de 350% nos primeiros três meses de 2023. (Canary Media) 

Mesmo que separados por cerca de 11.000 quilômetros, os destinos de Galveston, Texas (EUA), e da geleira Thwaites, na Antártica, estão intimamente conectados. Confira o porquê. (NPR) 

Alguns pesquisadores estão considerando intervenções drásticas para salvar a Geleira do Fim do Mundo. (MIT Technology Review Brasil) 

O processo de aplicação de eletricidade à água do mar pode ajudar a retirar o dióxido de carbono do ar. No entanto, há muitas incógnitas em torno deste e de outros métodos de remoção de carbono marinho. (Associated Press) 

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