80% das empresas latino-americanas já exploram soluções de IA
Inteligência artificial

80% das empresas latino-americanas já exploram soluções de IA

Entre as 20% das empresas que ainda não realizaram nenhum projeto de IA, metade planeja fazê-lo este ano

80% das empresas latino-americanas já tiveram contato com a Inteligência Artificial e aquelas com maior liderança planejam alocar mais de 15% do seu orçamento para tecnologia de IA nos próximos anos. Esses são alguns dos dados oferecidos pela última edição do estudo A Inteligência Artificial na América Latina 2023: Explorando a IA como motor de transformação na fronteira digital latino-americana, elaborado pela NTT DATA e pela MIT Technology Review em espanhol.  

O levantamento foi feito com representantes de empresas na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, que foram questionados sobre como estão explorando essa tecnologia e como ela está sendo incorporada em ações concretas e efetivas que melhoram a produtividade. Apesar desses dados promissores, a taxa de implementação efetiva é de 37%, ainda cinco pontos abaixo da média global. 

Desde o surgimento do ChatGPT em 2022, a IA deixou de ser uma tendência tecnológica para estar no centro do debate público e despertar o interesse das empresas na sua implementação. Nesse contexto, as empresas latino-americanas lutam para não ficarem para trás diante das oportunidades comerciais e de produtividade que a tecnologia oferece, e para fechar a lacuna que ainda as separa das regiões mais avançadas. 

Em edições anteriores do estudo, o número de empresas que afirmavam que a IA não teria impacto nos seus negócios já era muito baixo (3% em 2021), mas na edição mais recente essa porcentagem é zero: ninguém pensa que poderá ficar alheio à IA: 71% das empresas entrevistadas reconhecem o grande potencial da IA ​​para os seus negócios e a maioria dos entrevistados antecipa um aumento significativo do investimento nessa área, de acordo com as expectativas geradas. É importante observar que as empresas com maior liderança nessa área planejam alocar mais de 15% do seu orçamento na tecnologia de IA nos próximos anos. 

Uma mudança acelerada, mas com ritmos diferentes 

A taxa de adoção da IA nas empresas latino-americanas aumentou significativamente nos últimos anos, de acordo com dados coletados no relatório da NTT Data e da MIT Technology Review em espanhol. Aproximadamente 60% das empresas começaram a incorporar a Inteligência Artificial há mais de um ano e pouco mais de 20% começaram este ano. Juntas, elas formam um total de 80%. Dos outros 20% que ainda permanecem fora dessa tendência, a maioria considera começar no próximo ano.

Entre as empresas que tiveram contato com a IA, a maioria (39%) está na fase inicial de “exploração”, o que representa um salto significativo desde os 21% registrados no estudo de 2022. Além disso, 30% das empresas avançaram para a fase de “produção”, o que significa que transformaram sua exploração inicial em ações práticas e eficazes. 6% delas estreiam a categoria “liderança”, que aparece pela primeira vez neste relatório. 

Essa diversidade nas etapas de adoção reflete “um ecossistema empresarial em constante evolução”, nas palavras dos autores do relatório. A América Latina está avançando com determinação em direção à IA, como conclui esse trabalho, mas ainda está um pouco atrasada em relação ao resto das economias. Segundo dados do Statista citados no estudo, a taxa efetiva de implementação dessa tecnologia nas empresas da região é de 37%, em comparação com 42% a nível global. 

O estudo também detecta algumas nuances variando de acordo com cada país. Segundo as respostas obtidas, a Colômbia e o México são líderes no reconhecimento do potencial da IA, com 84% e 83% respectivamente; enquanto o Peru (58%) e a Argentina (60%) aparecem como países que demonstram uma certa cautela quanto ao potencial da tecnologia. 60% das empresas da América Latina começaram a incorporar a IA — 39% ainda na “exploração” e 30% na “produção”. 

A IA como facilitadora do talento humano 

Apesar do que algumas hipóteses poderiam sugerir, a IA não está tendo impacto nos empregos. Os dados do estudo A Inteligência Artificial na América Latina 2023: Explorando a IA como motor de transformação na fronteira digital latino-americana confirmam que os trabalhadores não foram substituídos pela IA. Os resultados da pesquisa mostram que 73% das empresas não experimentaram nenhuma mudança nos seus empregos, enquanto 24% reconhecem que algumas tarefas foram afetadas, mas as pessoas envolvidas foram simplesmente transferidas para outras atividades. 

Os resultados dessa edição do estudo apontam para a ideia de que o capital humano é um fator indispensável para a implementação da IA ​​nas empresas e que, no futuro, serão necessários mais perfis especificamente encarregados dessa tarefa. Quase 28% dos entrevistados indicaram que sua empresa está adquirindo as competências e talentos necessários para implementar a IA por meio de programas de treinamento internos, enquanto 27% optam pela contratação de profissionais especializados em IA e 25% pela subcontratação de empresas ou consultorias especializadas em IA. Destaca-se ainda o fato de que 67% das empresas que estão implementando a IA colaboraram com universidades e/ou instituições acadêmicas para a formação e contratação de talentos nessa área. 

A maioria das empresas que adotam a IA o fazem para melhorar a eficiência e a qualidade de suas operações. Isso é indicado por 64% dos entrevistados, para quem a IA pode ajudar a otimizar fluxos de trabalho, eliminar tarefas monótonas e propensas a erros, realizar tarefas de análise em grande escala e informar a tomada de decisões. Além disso, 62% das empresas acreditam que essa tecnologia pode servir para melhorar a experiência do usuário. Dentro das tecnologias concretas possibilitadas pela IA, as empresas entrevistadas destacam a importância da análise avançada de dados e do processamento de linguagem natural. 

“Acho que há uma melhoria em termos de desempenho e acredito que, de certa forma, também em termos de ambiente, porque penso que ela te liberta de uma certa necessidade de avaliar ou analisar, simplifica parte do seu trabalho e dá capacidade e tempo para que você possa começar a enxergar as melhorias nos seus processos a partir de uma visão mais analítica, construtiva e inovadora”, afirma um dos diretores entrevistados na elaboração do estudo. 

Incorporando a IA no dia a dia da empresa 

O estudo dedica um capítulo para estudar em profundidade como é a jornada que as empresas latino-americanas seguem na adoção da IA ​​e chega a três conclusões claras. Em primeiro lugar, a maioria das empresas (54%) prioriza os objetivos comerciais na sua estratégia de adoção da IA. Seguem como prioridades o foco na satisfação do cliente (20%) e os objetivos estratégicos de longo prazo (18%). 

Em segundo lugar, observa-se que, em termos de plataformas utilizadas para a sua implementação, existe uma liderança relativa da Microsoft Azure (21%) e uma presença notável de empresas líderes em tecnologia como Amazon Web Services (16%), Open AI (15%) e Google Cloud Platform (14%).  

Por fim, observa-se a falta de KPIs específicos para avaliar o impacto da IA ​​nos negócios, o que representa para os autores do relatório “uma oportunidade para o desenvolvimento de medidas quantitativas que permitam uma melhor compreensão do seu valor e desafios”. 

O estudo também questionou as empresas sobre os desafios que elas enfrentam na incorporação da IA ​​no seu dia a dia, sendo a falta de talentos especializados, identificada por 20,5% das empresas entrevistadas, a principal delas. Seguem os custos associados à implementação e manutenção, mencionados por 12% das empresas; falta de conhecimento sobre os benefícios potenciais da IA ​​e resistência à mudança dentro da organização, ambos com 11%, e preocupações éticas e de privacidade, com 6%. 

Ao incorporar a IA nas suas operações quotidianas, 68% das empresas apostaram em uma abordagem mista técnico-empresarial, que combina a experiência das áreas de negócio com as capacidades técnicas em dados e IA do departamento de TI, como revela o estudo. 41% das empresas incentivam a colaboração contínua entre essas equipes de negócios e de dados. No entanto, 30% preferem que as equipes de dados e a IA operem com base em casos de utilização específicos, uma abordagem que parece procurar “maior coesão técnica e uma visão unificada na adoção da IA”, como descreve o relatório. 

Apenas 12% das empresas entrevistadas utilizaram a metodologia agile na implementação da IA, enquanto 17% operam sem ligação entre as áreas de negócio e as áreas de dados e IA, algo que os autores do estudo veem como “uma falta de comunicação que poderia resultar em soluções menos personalizadas e oportunidades perdidas.” 

Descentralização, MLOps e outras tendências 

O estudo mostra que as empresas estão adotando os frameworks corporativos de machine learning operations (MLOps) mais cedo em comparação com dois anos atrás. Entre as empresas que utilizam a IA há mais de um ano, quase 54% já possuem um framework corporativo de MLOps, usado principalmente para a automatização da construção e a implantação de modelos no ambiente de produção. 

Outra descoberta interessante é que mais de 40% das empresas estabeleceram uma pessoa ou equipe específica dedicada às iniciativas de IA, de forma centralizada. Os autores do estudo explicam que há um percurso na implementação da IA ​​que vai desde a centralização no momento de definir a aposta por essa tecnologia até a descentralização nas diferentes unidades de cada empresa na hora de colocá-la em prática. Logicamente, a primeira área do negócio onde são implementados projetos baseados em IA é o próprio departamento de Tecnologia da Informação (TI), seguido por departamentos como vendas, negócios, atenção ao cliente e suporte técnico.

O estudo dedica um capítulo final à identificação de tendências que podem marcar a adoção da IA ​​pelas empresas latino-americanas em um futuro próximo. Entre as tendências observadas, menciona-se que a área de atendimento ao cliente tornou-se um ponto central para a introdução da IA ​​em muitas empresas, devido à importância atribuída à melhoria da experiência do usuário. Também é mencionado o uso do “estado 0” para experimentar com a IA, esperando que o marco regulatório especifique os limites de seu uso real, e que muitos profissionais estão passando de executores a validadores dos resultados que a IA oferece. 

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