6 tendências tecnológicas para o setor público em 2023
Governança

6 tendências tecnológicas para o setor público em 2023

Tecnologias como IA, Gêmeos Digitais, 5G, hiperautomação, superapps e o metaverso podem fazer a diferença para melhorar a qualidade do serviço público no ano que se inicia.

2022 já é história. Mas o que esperar da tecnologia para o ano de 2023? Quais as principais tendências tecnológicas que as organizações do setor público devem explorar neste novo ano que se inicia? 

É papel da tecnologia impulsionar a organização com uso de soluções avançadas para gerar valor ao negócio. Ao mesmo tempo em que mantém o parque tecnológico existente — muitas vezes um legado difícil de se livrar, especialmente no setor público —, a transformação digital do setor público deve buscar soluções de tecnologia alinhadas ao negócio, para aprimorar os recursos existentes e criar oportunidades. 

Para isso, há um leque de tecnologias emergentes, que ainda estão com pico de expectativas infladas — estão no hype – e algumas outras que já alcançaram a planície de produtividade. Mas é importante definir bem quais tecnologias irão agregar valor para a organização. Isso porque apostar em uma tecnologia que não irá decolar pode representar uma grande perda financeira, de imagem e de janelas de oportunidade para melhorar a qualidade dos serviços prestados para a sociedade. 

Com base em diversas pesquisas, apresento aqui seis tendências tecnológicas que têm mais potencial para impulsionar as organizações públicas em 2023. 

1.Prototipação em busca da melhor solução: Digital Twins – o gêmeo digital 

Um gêmeo digital liga o mundo físico ao mundo digital, por meio de um modelo digital de um ativo ou processo físico. Ele serve como um hub de dados em tempo real para seu proprietário, permitindo referência ao desempenho projetado ou esperado e monitoramento externo contínuo.  O conceito de Gêmeo Digital não é novo, mas ultimamente vem apresentando um aprimoramento de conceitos bem conhecidos como Computer-Integrated Manufacturing (CIM) e Product Lifecycle Management (PLM), com benefícios esperados por meio de simulação onipresente, análise em tempo real e processamento síncrono. Não se trata apenas de réplicas digitais de objetos, espaços, sistemas físicos ou processos para obter produtos mais precisos, reduzir custos ou prever possíveis erros; eles também permitem testar e simular se o comportamento de uma planta industrial, por exemplo, está adequado. Essa tecnologia possibilita alterar determinados componentes no mundo digital até que sejam otimizados e alcancem sua melhor versão no mundo real. Assim, os gêmeos digitais têm grande potencial para revolucionar os processos de negócios, melhorando a eficiência e reduzindo custos em setores como construção, aeronáutica, saúde, educação, entre outros. 

No setor público, já em 2023, os gêmeos digitais poderiam ser utilizados massivamente na área de infraestrutura, de forma a maximizar os benefícios e até minimizar o impacto ambiental.  

2. Convergência, integração e complementariedade do digital com o real: metaverso e figital 

A palavra “metaverso” se tornou a palavra da moda em novembro de 2021, quando o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, renomeou sua empresa para Meta, deixando claras suas ambições futuras. Em seguida, a Microsoft usou sua concorrida conferência Ignite para anunciar a reformulação de suas linhas de produtos com a inclusão de tecnologias de metaverso. O Figital, por sua vez, pode ser definido com a convergência dos “mundos” físico, digital e social das organizações, privadas ou públicas.  

Embora ainda estejamos longe de ver o universo digital que permita a convergência das realidades virtual e física em um espaço online compartilhado, muitas empresas já estão utilizando esse ambiente para aprimorar seus produtos, dar uma imagem de marca diferente ou se conectar com seus consumidores. A aposta do momento é o metaverso industrial, para a criação da chamada Indústria 5.0. As aplicações são inúmeras, desde capturar e digitalizar o mundo real, entender e enriquecer dados em ambientes virtuais ou atingir objetivos sustentáveis ​​com otimização de custos. 

O metaverso e o figital no setor público já tiveram algumas aplicações incipientes, mas podemos ir além. Com tais tecnologias, é possível criar campanhas de saúde pública, orientação, educacionais que poderiam engajar principalmente a população mais jovem. Além disso, as instituições poderiam atender a sociedade no metaverso, de forma que o cidadão não precise sair de sua casa para ter acesso a um serviço público. A experiência imersiva poderia aproximar a população do governo, permitindo um maior esclarecimento sobre as funções e interação dos poderes e, de certa forma, agindo no combate às fake news e aprimorando a cultura política na sociedade brasileira.  

3. Tudo em um único lugar: os SuperApps 

Trata-se da combinação de várias funcionalidades, uma plataforma e um ecossistema digital, tudo dentro de um único super aplicativo. É a junção de várias ferramentas que compartilham a mesma plataforma digital e podem ser personalizadas para oferecer experiências únicas e envolventes para cada usuário. Assim, não será preciso sair e entrar em aplicativos diferentes para realizar operações diversas – como pedir comida, pedir um transporte ou mesmo acessar seu e-mail. E, obviamente, não há a necessidade de baixar e instalar um app diferente para cada uma dessas funcionalidades. 

Esses superapps permitem a inclusão de experiências corporativas, como fluxo de trabalho, colaboração e plataformas de mensagens. E no futuro, serão integrados a chatbots, IoT e até experiências imersivas no metaverso. 

Não é por acaso que o Gartner prevê que, até 2027, mais de 50% da população mundial sejam usuários ativos diários de superapps. 

No governo, o uso de superapps já está em andamento, em iniciativas da Secretaria de Governo Digital, tendo com pedra basilar a plataforma digital Gov.br. Outra iniciativa que pode ser citada é o superapp “Portal TCESP”, do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, que reúne em um único aplicativo todos os serviços da Corte de Contas disponibilizados para a sociedade. 

4. Mais produtividade e disponibilidade com menor custo: a hiperautomação 

A automação deve se tornar cada vez mais importante nas organizações. Seja para suprir a falta de profissionais qualificados, seja para aumentar a produtividade, escalabilidade e disponibilidade, mais que a automação, a hiperautomação deve ser um objetivo das organizações em 2023. Por meio de integração com Inteligência Artificial e Machine Learning, a tecnologia permite a automatização de processos de negócios, como interpretar aplicativos, processar transações, manipular dados ou até mesmo responder a e-mails. Assim, automatizando tarefas repetitivas, os colaboradores podem focar em tarefas mais criativas e produtivas. Consequentemente, a hiperautomação também ajuda a reduzir custos, a aumentar a lucratividade, a reduzir o tempo gasto em tarefas demoradas e a minimizar probabilidade de erro. O Gartner vai além e afirma que as organizações devem investir na criação de um sistema imunológico digital, que combina informações baseadas em dados – sobre testes automatizados, resposta automatizada a incidentes, deploy automatizado de softwares, dados da operação de TI, por exemplo – para aumentar a resiliência e a estabilidade dos sistemas computacionais. Com isso, será possível diminuir o período de inatividade dos sistemas em até 80%. 

A aplicação da hiperautomação no setor público traz vantagens claras. Em um cenário em que se faz necessário entregar mais com menos recursos financeiros e humanos, a hiperautomação é o caminho para ofertar cada vez mais serviços, com qualidade e rapidez cada vez maior.  

5.Inteligência artificial adaptável, generativa e onipresente 

Em 2023, a Inteligência Artificial (IA) se tornará cada vez mais presente nas organizações. As provedoras de solução de IA sem código, com suas interfaces intuitivas de arrastar e soltar, permitirá que qualquer empresa aproveite essa facilidade para criar produtos e serviços mais inteligentes, personalizados para as demandas de cada organização. A Inteligência Artificial generativa é um tipo de aprendizado de máquina semi-supervisionado que usa redes neurais para criar novos conteúdos ou interpretar informações complexas. Isso é possível com a utilização de uma grande quantidade de conteúdo para treinar o algoritmo, de forma que a “máquina” possa gerar novos trabalhos e respostas elaboradas, similarmente ao que um ser humano criaria. 

 Os usos da IA generativa vão além da criação de textos ou imagens. Ela pode ajudar as organizações trazendo insights analisando uma grande quantidade de dados, auxiliar no combate cibernético, de forma preditiva ou reativa. Poderia também ajudar a gerar novas ideias para medicamentos ou auxiliar na análise de qualidade e diagnósticos médicos. 

Certamente você ouviu falar do chatGPT, da OpenAI, um bot que faz uso da IA generativa e que está tendo uma grande repercussão nas últimas semanas. Mas o que é o chatGPT?  

O chatGPT – chat Generative Pre-trained Transformer – nas “palavras” do próprio bot, é “um modelo de linguagem de grande porte treinado pela OpenAI. Ele foi criado com o objetivo de ser capaz de conversar de maneira natural com pessoas e responder a perguntas sobre uma ampla variedade de assuntos. O ChatGPT foi treinado usando uma técnica chamada “transformer” e é baseado em dados de conversas reais de internet, o que o torna capaz de reproduzir o jeito de falar e as maneiras de pensar das pessoas de maneira bastante precisa. Ele pode ser usado em aplicações como assistentes virtuais, chatbots e outras ferramentas de comunicação automatizadas.” 

No setor público, o uso de IA poderia ajudar na elaboração de políticas públicas, no controle do orçamento – receitas e despesas -, na análise de políticas de distribuição de renda, na prevenção de fraudes, em saúde pública, segurança pública – aqui, até mesmo de forma preditiva, indicando os pontos onde há maior probabilidade de ocorrência de crimes, permitindo um planejamento adequado do policiamento ostensivo e preventivo. As aplicações são inúmeras. E se pensarmos na utilização de outras tecnologias como 5G e IoT, é possível construir cidades inteligentes realmente eficazes que podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos cidadãos, com as possibilidades que já abordei em um artigo aqui na MIT Technology Review Brasil.  

6. Conectividade total: IoT e o 5G 

Segundo dados da pesquisa TIC Domicílios 2021, do CETIC.br, 82% dos domicílios brasileiros têm acesso à Internet, sendo 83% na área urbana e 71% na área rural. 

 Com o 5G, é possível revolucionar a vida das pessoas, habilitando serviços que dependem de tecnologias avançadas como as que citamos anteriormente: metaverso, figital, IA, cidades inteligentes. Além disso, é necessário expandir o 5G para que a Internet seja universalizada no nosso país. A quinta geração da internet móvel oferece alta velocidade na transmissão de dados, novas aplicações e uma nova revolução na tecnologia, e seu uso certamente crescerá exponencialmente em 2023. 

 Assim, muito antes de ser uma nova geração de internet móvel, o 5G precisa ser um propulsor de soluções tecnológicas que podem facilitar o atendimento à população, independentemente de onde ela esteja. É uma verdadeira carta de alforria digital para os brasileiros.   

2023 promete! 

Claro que há várias outras tecnologias que estarão em evidência neste ano que se inicia. Certamente, cibersegurança, privacidade e proteção de dados continuarão entre as principais áreas de investimento das organizações. 

Contudo, se as 6 tecnologias aqui tratadas forem conduzidas com prioridade no setor público, chegaremos em dezembro melhores do que começamos agora em janeiro. 

*As opiniões contidas no texto são pessoais e não expressam o posicionamento institucional do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. 

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Este artigo foi produzido por Fabio Correa Xavier, Diretor do Departamento de Tecnologia da Informação do TCESP, Mestre em Ciência da Computação, Professor e colunista da MIT Technology Review Brasil.

 

 

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