Antes de mais nada é importante ressaltar que 2023 marcou o amadurecimento de muitas áreas da economia e a consolidação de diversos players que atuam no ecossistema de inovação. Isso aconteceu devido ao avanço da tecnologia e à mudança dos hábitos de consumo, que obrigaram as companhias a se adequarem e criarem produtos e soluções para atenderem às reais necessidades dos consumidores. Por conta disso, pudemos ver muitas startups e empresas consideradas disruptivas ganhando força em seus mercados de atuação.
Mas o que nós podemos esperar para 2024 nas principais áreas? Será que mesmo diante de tantas evoluções ainda há espaço para novas tecnologias e a criação de novas soluções?
De acordo com um estudo feito pelo Instituto dos Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE), a Inteligência Artificial será a tecnologia mais importante neste ano. Segundo os 350 profissionais de tecnologia — que atuam como CTOs (Chief Technology Officer), CIOs (Chief Information Officer) e diretores de Tecnologia da Informação em cinco países, como Estados Unidos, Reino Unido, China, Índia e Brasil — a área de telecom será a mais impactada pelas inovações em 2024, a computação quântica será destaque, e o 6G irá evoluir e ganhará o mercado nos próximos cinco anos.
Antes de falarmos sobre 2024, acho que vale fazermos uma retrospectiva do que aconteceu em 2023 nos principais setores da economia e as inovações que se consolidaram. Acredito que uma das áreas que pudemos ver muitas transformações foi da saúde.
Tecnologia aplicada na saúde
Com o uso da Inteligência Artificial, os profissionais da saúde conseguem coletar os dados dos pacientes para terem um diagnóstico mais preciso e assertivo, além de poder padronizar os dados médicos com o objetivo de trazer eficiência operacional automatizando processos burocráticos.
Outra tecnologia que está proporcionando inúmeros benefícios para os pacientes é a telemedicina, que permite que os atendimentos sejam feitos de forma online, trazendo mais comodidade e praticidade a todos. Agora, para 2024, podemos esperar mudanças significativas, principalmente porque todas as tecnologias devem estar pautadas na jornada do paciente com o objetivo de melhorar a experiência.
Assim, a IA consegue acompanhar as principais tendências para este ano, como identificar e reduzir as fraudes; personalizar o atendimento e tratamento; coletar as informações em tempo real; melhorar os canais de contato com os pacientes via chatbots e assistentes virtuais, automatizar processos internos e fazer a gestão dos dados. Além disso, as pessoas terão acesso às informações também em tempo real com o objetivo de entender como está a sua saúde e quais os cuidados que devem ser adotados a partir dos diagnósticos — e tudo isso de uma forma mais customizada.
Essa tendência foi nomeada como IoMT (Internet das Coisas Médicas), pois, além dessas facilidades, é possível fazer exames à distância; realizar internações e atendimentos a domicílio, e melhorar o fluxo operacional das instituições de saúde, trazendo mais eficiência e produtividade.
Outra tendência é a medicina personalizada, que permite com que as pessoas sejam tratadas de forma individual, já que cada um tem uma necessidade e, por consequência, devem ser criados tratamentos personalizados para atender circunstâncias especificas.
O terceiro conceito que chamará a atenção em 2024 é o Open Health, uma vez que permite a abertura e o compartilhamento de dados, com o objetivo de promover cada vez mais a transparência e a colaboração entre todos os envolvidos, além de ajudar no desenvolvimento de pesquisas médicas e auxílio aos pacientes. Outra vantagem é que, por meio dessa tecnologia, é possível integrar diferentes sistemas de saúde e, dessa forma, facilitar o compartilhamento de informações entre cada canal de comunicação, de maneira organizada e integrada.
Segundo o estudo feito pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS), 62,5% das instituições de saúde usam Inteligência Artificial de diferentes maneiras: chatbots de atendimento; segurança da informação; apoio à decisão clínica, análise de imagens médicas. O levantamento ouviu 45 hospitais e mais da metade dos entrevistados disseram que passaram a utilizar essa tecnologia para melhorar os resultados e resolver problemas. Dentre esse total, 51% afirmaram ter tido resultados práticos, enquanto 23% não conseguiram ver os benefícios nos negócios.
O Panorama das Clínicas e Hospitais 2024, feito pela Doctoralia com 1.328 profissionais da área que atuam em 27 estados do Brasil, aponta as principais tendências para 2024. De acordo com 59% das clínicas e hospitais, a humanização é a principal tendência para este ano; em seguida vem automação de tarefas e/ou redução de tarefas manuais (44%), e em terceiro engloba Inteligência Artificial, ChatGPT e Realidade Virtual (42%). Esses dados comprovam o quanto essa tecnologia vai impactar positivamente o setor nos próximos anos.
Inovação no setor financeiro
Já outro segmento que também está inovando e que tende a trazer muitas novidades para 2024 é o setor financeiro. Dentre as principais tecnologias a serem implementadas, destacam-se os super apps, que envolvem diferentes soluções como Open Finance, Pix e a moeda digital Drex. Todas elas farão parte de um ecossistema de produtos e serviços que serão comercializados nos super apps. Um exemplo também é o uso da tokenização, que transforma um ativo ou direito em representação digital, a fim de atrair mais clientes e expandir a atuação de uma maneira menos burocrática.
Outro indicativo é a segurança cibernética, pois à medida que os fraudadores vão aprimorando os artifícios usados para fraudar e realizar ataques hackers, as empresas também devem acompanhar essa evolução e criar mecanismos de bloqueios desses atos, para que não haja prejuízos ainda maiores com fraudes.
Conforme aponta o estudo do FortiGuard Labs, que faz parte da empresa global de segurança cibernética Fortinet, o Brasil já é o segundo país da América Latina que mais sofre ataques cibernéticos, tendo registrado 103,2 bilhões de tentativas em 2022. Por isso que os agentes financeiros que atuam no Brasil devem ampliar os investimentos em TI voltado para segurança, que hoje chegam a R$ 3 bilhões.
Ademais, uma tendência que será muito bem-vista em 2024 é a blockchain e os criptoativos, pois permitem que as transações financeiras feitas por meio deles sejam mais seguras, eficientes e transparentes, além de possibilitarem a criação e surgimento de novos negócios. Além disso, à medida que essas inovações vão ganhando força, as instituições financeiras junto com os órgãos competentes vão definindo o marco regulatório.
Por fim, nesse setor, destacam-se os investimentos em ESG, que vêm sendo pauta para muitos empresários, investidores e empreendedores durante as tomadas de decisão e na hora de traçar as melhores estratégias a curto, médio e longo prazo, principalmente porque eles exercem um papel fundamental na sociedade e vêm mudando a maneira como as pessoas tratam os fatores climáticos.
De acordo com o relatório ESG Radar 2023, realizado pela empresa de consultoria e serviços digitais Infosys, os investimentos em ESG dentro das empresas devem alcançar a marca de US$ 53 trilhões até 2025. O levantamento foi feito com 2,5 mil executivos e gerentes de companhias dos Estados Unidos, Reino Unido, Australia, Nova Zelândia, França, Alemanha, países nórdicos, Índia e China e apontou que 90% deles disseram que tiveram retornos financeiros positivos com as iniciativas ESG.
Já segundo o estudo “Como está a sua agenda ESG?” feito pelo Pacto Global da ONU no Brasil, em parceria com a Stillingue e consultoria Falconi, com 190 organizações da iniciativa privada, setor público e terceiro setor, 78,4% das empresas implementaram o ESG no desenvolvimento das suas estratégias — e esses números tendem a aumentar ano após ano.
Novas tecnologias para os negócios? O que podemos esperar?
Agora, se abrirmos um pouco o leque e falarmos das tendências de uma forma geral, podemos destacar o uso da IA generativa em todos os negócios. Isso porque ela tem impactado positivamente vários segmentos, uma vez que reduz tarefas repetitivas, permite que as pessoas realizem atividades mais estratégicas e criativas, e automatiza processos arcaicos e morosos.
Essa solução, inclusive, ajuda na hiperpersonalização da jornada do cliente, já que consegue criar mensagens-chave personalizadas e direcionadas para um determinado público, afunilando a comunicação entre a marca e a sua persona, além de oferecer produtos específicos para os clientes de acordo com as suas reais necessidades e hábitos de consumo, assim, aumentando os níveis de conversão para vendas. Além disso, ela tem um papel crucial no combate às fraudes e no processo de análise de riscos.
Outro fator a ser destacado é a possibilidade de atuar lado a lado com os funcionários de maneira colaborativa, eliminando aquelas atividades que requerem esforço físico e podem prejudicar a saúde dos colaboradores.
Ainda assim, mesmo diante de tantas vantagens, há alguns desafios que os empreendedores devem enfrentar, como garantir ética e responsabilidade do que é feito por meio da IA generativa; manter a qualidade dos conteúdos produzidos, pois há erros que podem ocorrer; promover treinamentos periódicos sobre o uso da IA; e contratar os talentos certos que saibam trabalhar com essa tecnologia.
O estudo CEO Outlook Pulse, da consultoria EY, aponta que 99% dos empresários que foram entrevistados disseram que estão planejando investir em IA generativa em 2024, pensando em dois benefícios chaves: eficiência e produtividade. Em contrapartida, outro dado relevante desse material é em relação ao sentimento que envolve a adoção dessa tecnologia, pois 68% dos participantes afirmaram que têm incertezas sobre essa inovação e isso tende a ser um desafio a ser superado pelos empresários.
O relatório aponta também que 64% das companhias que já aderiram a essa inovação apostam nela com o objetivo de redefinir os negócios e o modelo operacional em até dois anos. Já 67% das empresas que possuem experiência avançada com a IA acreditam que será necessário de três a cinco anos para conseguir os mesmos resultados.
Como comentamos anteriormente, as empresas ainda terão alguns desafios pela frente. A pesquisa mostra que os empreendedores e líderes deverão criar estratégias reais para a IA generativa para evitar frustrações entre todas as partes envolvidas, elaborar planos de redução de custos, além de desenvolver planos de contratação de profissionais aptos e especializados para lidar com essas tecnologias específicas. Por fim, precisarão ter um planejamento financeiro assertivo para organizar os investimentos e aplicações dos negócios.
Diante de todos esses insights e tecnologias que foram abordados em diferentes nichos de atuação, podemos afirmar que 2024 será um ano de mudanças e, ao mesmo tempo, de consolidação de muitos projetos que começaram a ser implementados nos últimos anos. E agora o mercado está mais maduro para firmar soluções altamente inovadoras e disruptivas que vão transformar diferentes segmentos da economia.
Portanto, é preciso que os empreendedores entendam que o mercado mudou e que as empresas só vão sobreviver quando colocarem a tecnologia e o cliente no centro do negócio, pois a junção dos dois será determinante para o sucesso dos negócios. E, por isso, é preciso se atentar às inovações que estão surgindo ano após ano.
*Gustavo Caetano é fundador da Sambatech e Samba Digital